Diário de uma nuvem


  Estou sempre sendo ligada aos sonhos. Dizem que se alguém está sonhando, ele está "nas nuvens", viajando, por assim dizer. Talvez existam similaridades entre nós. Receio ter pouco tempo para refletir sobre isso. Afinal, estamos no inverno. Logo começamos a precipitar e lá vem tudo de novo. A minha vida é passageira. Tem alguns que duram mais, outros, menos.
  Assim como um sonho, não sei quando comecei, mas provavelmente me lembrarei de quando vou terminar. Sou formada de vapor d'água. Este vem dos rios, mares, lagoas e da transpiração dos seres vivos. Ele vai se agrupando e forma uma nuvem. Com o tempo, podemos ficar tão carregadas que acabamos precipitando, ou seja, chovendo. Isso depende também do clima. Quando a nuvem libera sua água, ela perde sua força. Talvez, dependendo de sua dimensão, ela demore mais para se extinguir. Talvez não.
  Os humanos ora gostam de mim (como um sonho), ora não (como um pesadelo). Eles são confusos. Escuto deles o desânimo quando sofrem com a seca. Porém, quando chegamos e molhamos a terra, eles reclamam. Dizem que alagamos as cidades. Não tenho culpa se eles entopem os bueiros da Terra ou ficam no caminho dos rios. 
  Faço só minha parte. Sigo o ciclo das águas. Eles deveriam agradecer mais. Quer saber? Nem ligo. Do jeito que estou irritado, vou vir com raios e trovões. Vou desaparecer mesmo, eu sei. Hoje e volto para a terra...


Alexandre Valério Ferreira


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