Janela da torre

Torre de TV. Foto: Autor.

  Eu tinha medo de altura. Ela me aterrorizava. Se eu caísse? Morreria. Não queria morrer. Acho que no fundo ninguém quer. Porém, meu pai insistia em visitar a torre. Só de olhar, eu já sentia um frio na barriga.
  Por que ter medo? De onde ele vinha? Meus primos estavam tão tranquilos. Eles eram de uma fazenda no interior e eu, da cidade grande. Todos judiavam de mim por parecer um matuto, mesmo sendo uma pessoa "da cidade".
  Às vezes, a vergonha nos faz engolir o medo, mesmo quando este possui fundamento. Isso pode ser perigoso, não acha? Mas, na situação em que eu estava, opção não havia. Meu pai e os primos estavam no meu pé. Eu era um medroso, admito. Sou um fraco e não nego. Fazer o quê se, quando olho para aquele mirante de 75 metros, meu estômago começa a doer?
  Mas, ser humilhado o resto do ano por ter saído correndo com medo era insuportável. Eu tinha de subir. Tinha que aguentar. Se caíssemos, seríamos todos nós. E todos saberiam que eu bem que tinha avisado.
  O elevador demora um pouco até chegar o topo. Meus primos ficaram um tanto estranho. Eu não. Só esperava o momento de chegar ao ponto máximo. E chegamos! Era agora! Eu pisei, olhei e admirei tanto verde. Tudo era tão pequeno daqui. 
  Procurei onde o carro da gente estava estacionado. Tirei fotos. Só podia tirar 36 poses, pois não tínhamos dinheiro para comprar filme com mais fotos. Quando fui tirar foto dos parentes, percebi que eles não estavam aqui. Cadê meu pai? Cade meus primos? Fiquei assustado, deveras. Acabei me distraindo com o cenário. Descobri que amava fotografar. 
  De repente, vejo meu pai saindo do elevador. Ele me explicou que na hora que fomos juntos, meus primos viram eu saindo, mas não tiveram coragem. Olharam e ficaram aterrorizados, obrigando ele a descer e deixá-los com os outros parentes lá embaixo. 
  Admito que rimos bastante com isso. Mas, de certa forma, agradeço a eles. Eles me forçaram a lutar contra o medo. E quando lutei contra isso, aprendi e vi coisas maravilhosas. Sem contar que nem precisei me vingar deles. Eles mesmo se humilharam. Eu nunca esqueci aquela viagem!



Alexandre Valério Ferreira



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