Diário da passarela
Avenida movimentada. Foto: Autor. |
Eu sou uma passarela. As pessoas dependem de mim para atravessarem ruas movimentadas. Sou a salvação delas nos momentos de sufoco. Eu cuido bem delas. Protejo dos perigos de um trânsito maluco. Os veículos são loucos; não esperam, não raciocinam, não se controlam. Eu, por outro lado, asseguro à meus usuários uma passagem sem riscos.
Os humanos são criaturas estranhas. No mínimo, confusos. Tem algo neles o qual não sei bem como explicar. É uma atração fatal por aquilo que não possuem. Parece ser uma doença. Uma eterna praga que atinge a todos eles, em maior ou menor grau. O que eu falo é baseado em fatos, em minhas observâncias. Afinal, vejo eles o tempo todo.
É comum eles não passarem por mim! Afinal, fui construída para isso... Eu já me senti deprimida por causa disso. Eu sei que não sou das mais belas. Não sou uma como a ponte Rialto em Veneza, rica em detalhes (se bem que ela é uma ponte, mas a função é idêntica a minha). Qual é o problema comigo? Bem, meu psicólogo me ajudou bastante. Descobri que não era eu o problema, mas, o ser humano.
Isso me deixou alegre e chateada. Feliz por não estar sendo uma má passarela. Mas, triste por continuar sendo pouco utilizada. Ora mais! Este é meu papel! Por que aqueles jovens insistem em atravessar a avenida, com risco de serem atropelados e mortos?
Qual a dificuldade de andar por mim? Seriam as escadas "muito" longas? Seria a falta de uma escada rolante? Não sei. Pensei muito, mas não entendi. E você, poderia me explicar? Passem pela passarela. Deixem eu me sentir útil. Quero ser importante! Não me abandonem!
Alexandre Valério Ferreira
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