Sangue Doce
De Alexandre Valério Ferreira
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Parecia que eu tinha sangue doce. As muriçocas caçavam somente às minhas pernas. Quanto aos meus tios e primos, nada. Estavam tranquilos no alpendre, conversando e rindo. Eu sofria as inúmeras picadas e nada fazia com que elas desistissem.
Quando vou para o interior de minha família, sempre acontece isso. É um fato comprovado. As muriçocas preferem sangue novo, estrangeiro, alheio àquela região. Por alguma razão, elas ficam saturadas dos moradores locais. Gostam de novidades.
Na hora de dormir é sempre um martírio. Dormi na rede. Camas não haviam. Assim, as malditas muriçocas me alfinetaram de todas as regiões. Sem piedade, destruíram meu sono e minha paz. Acordei com tantos pontos vermelhos que parecia uma pessoa com sarampo. Ainda por cima, causava conceira. Alergia.
Por mais que eu me cobrisse, aquelas vampiras me alcançavam. E era apenas a mim, pois os primos estavam sem nenhuma mancha vermelha. As visitas se tornavam o bode expiatório deles. Eu era o "metal de sacrifício", condenado para salvar o sangue dos nativos.
O mosqueteiro foi uma solução muito boa, porém, não totalmente eficaz. Algumas daquelas malditas muriçocas eram capazes de atravessar as frestas do véu e tinham a mim todo para elas. O monopólio do meu sangue era o sonho daqueles animais sanguinários. Quando entravam, faziam a festa.
Não sei com quantos litros de sangue a menos eu voltei, mas muita coisa eu deixei. Talvez na próxima eu use repelente ou nem venha. Outra solução é trazer mais amigos, para dividir as muriçocas, ou, quem sabe, por eu já não ser sangue novo, elas me deixarem em paz. Vamos ver no que vai dar.
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