Diário de um dia de chuva

Foto: paginaderafinha.blogspot.com

De Alexandre Valério Ferreira


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A chuva começou de madrugada e não parou mais. Tudo molhado. Poças por todos os lados. Ando e rapidamente fico com os pés molhados. Estou sem guarda-chuvas. Pego um ônibus.
  Poucas pessoas. Eu me sento no banco do corredor. Aqueles da janela estão molhados. Goteiras persistem em deixá-los assim. Não é um veículo bem vedado. A chuva fica mais forte.
  O terminal possui um telhado de placas metálicas. Há muitas poças d'águas e goteiras próximo das colunas. Uma senhora idosa está deitada no banco de concreto. Outras pessoas estão do seu lado. Dois funcionários a observam e se comunicam via rádio.
  O ônibus seguinte está vago. Torna a chover. O trânsito está razoável. Novamente, existe água escorrendo através das janelas mal vedadas. Os bancos ficam molhados.
  Nas paradas de ônibus, as pessoas tentavam se proteger das águas. Elas vinham de cima e de baixo. Do alto era devido à chuva. De baixo era devido aos veículos que passavam pelas poças que se formavam. Não havia fuga.
  A proteção ou telhado do ponto de ônibus era estranho. Não protegia do sol, pois é transparente e gera pouca sombra. Muito menos protege da chuva, pois é de tamanho pequeno e sem refúgio para as rajadas de vento. Os bancos são poucos. 
  Alguns conversam. Outros, não. O motorista não ligou o rádio. Houve pouca conversa entre ele e o cobrador. Haviam mais mulheres que aparentavam os seus 35 anos. Poucos jovens.
  Muitas placas de "aluga-se" ou "vende-se" eram encontradas na Bezerra de Menezes. Motoqueiros esperavam a chuva passar embaixo de cobertas de algumas lojas. 
  Haviam pessoas com guarda-chuvas. Em geral, eram mulheres. Mas, alguns jovens garotos também o utilizavam. Eu, não. Mas, não sou tão jovem assim. Também não sou velho. Sou apenas adulto.
  Uma senhora de meia idade e de roupas um tanto masculinas se senta onde evitei, por conta da água. Ela atende o telefone. Conversa por alguns instantes. Sua voz é firme, mas amigável. Parece cansada.
  O motorista faz curvas bem acentuadas. Dirige rápido em alguns trechos. Devagar, em outros. O ônibus não tem ar-condicionado. É do modelo antigo. Há no painel uma placa informando as rotações por minuto necessárias para mudar a marcha.
  Quero descer no sinal, antes da minha parada. Como estava no vermelho e o ônibus parado, ele nos abre a porta pneumática. Atravesso entre os carros parados e as motos em movimento. O canteiro central da 13 de maio é estreito. Algumas pedras estão soltas.
  O dia permanece nublado. Não chove e nem faz calor. Alguns reclamam sono. Outros, preguiça. A maioria, os dois. Ainda assim, a tarde percorre seu turno calmamente.
  Na volta, pego um ônibus com ar condicionado. Estava cheio, mas suportável para o ser humano e sua dignidade. O frio dele compensava. As pessoas estavam calmas. Conversavam tranquilamente. Muitos vinham do trabalho. Alguns, das aulas. A maioria acessava algum celular.
  Ao chegar no terminal, as portas se abrem em outro ponto de ônibus. Atravesso o túnel. Dois meninos olham atentamente para as vitrines cheias de comida. Algumas pessoas estão consumindo salgados ou sorvetes.
  Uma faxineira limpava um corredor, mas espera eu passar para continuar o serviço. Subo as escadas. A parada estava quase vazia. Aos poucos, vai ganhando tamanho.
  Quando o ônibus chega, entro feliz de saber que conseguirei um lugar. Em poucos instantes, o veículo está ocupado. Alguns decidem esperar pelo próximo. Duas mulheres com sacolas cheias de tecidos e com os celulares na mão correm e entram. Elas riem uma da outra pela vitória de terem chegado rápido.
  Aos poucos, os passageiros vão descendo. Poucos entram. É horário de retorno. As luzes internas são acesas. Em algumas paradas, descem muitas pessoas. Em outras, não. O clima estava frio.
  Aproxima-se da minha parada. Aperto o botão que alerta sobre o pedido da parada. Há duas pessoas na minha frente. Descemos juntos. Não nos conhecemos. Dois cachorros brincavam próximo da parada. Cada um toma seu rumo. Começa a chover.





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