A última esperança


De Alexandre Valério Ferreira

  Eram 6 horas da manhã. Eu me levantei apressadamente. Corri em direção a praia. Onde estavam as jangadas? Não conseguia enxergar nada naquela imensidão verde cristalina que se perdia na imensidão azulada. Seria minha vista que estava fraca? Espero que não. Estou ansioso. Queria ver meu pai.
  Ele era único. O melhor pai do mundo. Sacrificava de tudo por nós. Esquecia de suas próprias necessidades, mas não nos deixava faltar o que precisávamos. De vez em quanto, eu ganhava uma camisa nova. A dele era remendada. Raramente, tinha algo novo. Mas, nunca deixou de comprar o lápis e a caneta que eu precisava no colégio. Ele queria que eu tivesse educação.
  Um certo dia, o céu estava estranhamente acinzentado. Os barcos já estavam sendo empurrados para o mar. Giravam sobre troncos de coqueiro. Em alguns minutos, deixavam de ser um peso para os pescadores e estes passavam a ser o peso sobre a embarcação. O mundo é dessas coisas.
  E, aos poucos, as jangadas iam deslizando em direção ao infinito. Pois, de uma certa forma, o mar é infinito, não é verdade? Infinito, misterioso, assustador. Afinal, o que não é? Eles lentamente sumiam, mas para mim, continuava a ser tudo repentino. Tudo é novo. Ninguém sabe o dia de amanhã...
  O dia seguinte foi de muita chuva. Não para por nenhum minuto. Raios e trovões. A tempos que não via algo parecido! O que assusta não são os clarões, mas as ondas. Não exatamente por elas serem grandes, mas pelo fato das embarcações serem frágeis. Sobreviveriam a tamanha descarga de água? O medo me assolava. Meu coração vibrava em ressonância com os trovões.
  O Medo é terrível. Ele tenta destruir nossas esperanças. Ele nos corroí e nos paralisa. Ele pode nos cegar. Se deixarmos que ele nos controle, podemos ser totalmente consumidos e morrer por dentro, virar uma espécie de zumbi. Ele nunca some. Mas, não podemos permitir que a esperança também suma. E foi isso que fiz.
  O dia continuou com o clima de chuva. As ondas arrebentavam e tentavam abalar nossa esperança. As famílias tomavam café juntas. Tentávamos nos confortar. Tempestades no mar são terríveis. Ondas gigantes são comuns por lá. Mas, eles eram pescadores experientes. Acho que isso serve para alguma coisa. Só não serve quando a arrogância toma de conta. E meu pai não era arrogante.
  Mais um dia se passou e nada... Quanto mais esperamos, mais doloroso é o ato de esperar. Mas, espere!!! O que é aquilo? Talvez uma andorinha? Um nadador? Não! Eram as velas dos barcos de pescadores. São eles! São mesmo! A alegria tomou de conta de todos. Até os cachorros de estimação uivavam em uníssono. Era uma festa!
  Espere! Onde está a embarcação do meu pai? Não estava, simples assim. Ela afundara, eles me informaram. E quando eu ia começar a chorar, meu pai me abraçou! Ele estava vivo. Perdera o barco, mas não o mais importante. E ainda me trouxe um belo peixe que conseguiu segurar! Era assim mesmo. Mais um dia de pescador. Mais um dia comum. Amanhã começa tudo outra vez... 


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