De cabeça para baixo

Inversão.  Foto: autor.
  Fazia dias que os problemas se acumulavam. Era as contas de energia e água atrasadas. Era meu primo que sofreu um acidente de moto e precisava de uma cadeira de rodas. Era os trabalhos do final do semestre da faculdade.
  Sim, aquele fim de ano estava um desastre. Parecia mais uma bola de neve que crescia a cada dia e estava prestes a me esmagar completamente. Olhei para o céu. Era tão bonito, mas tão distante quanto a solução dos meus problemas. Lá longe estavam meus sonhos inalcançáveis.
  Então, eu caí. Mas, não foi por causa da bola de neve, pois como todos sabemos, aqui no Ceará não neva. Foi uma pedra redonda e grande perto do açude. Tropecei nela...
  Não sei quanto tempo fiquei no chão. Foi de uma hora a um minuto. Quando levante, não consegui me levantar. Fiquei deitado. Estranhei o mundo. Estava tudo de ponta a cabeça. O céu estava no chão e o chão no céu.
  Por alguns minutos fiquei ali. Nunca tinha prestado atenção em como aquele conjunto de água refletia o céu. Era tão bonito. As ondulações faziam estrelinhas brilharem no "céu" líquido. No chão, um campo de algodão doce pronto para colheita.
  De repente, o céu era o chão. Então, fiquei imaginando que talvez eu estivesse errado. Procurava o que não tinha e esquecia do que eu já possuía. Era tudo tão óbvio. E eu tolamente procurava o impossível, o inalcançável apenas por achar que era lá, e somente lá, que eu encontraria a felicidade. 


Alexandre Valério Ferreira



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