Cidade das flores

Flores. Fotos: Autor.
  Era uma vez uma bela cidade. Ela ficava entre diversas montanhas. Sim, era um vale cheio de casas e plantas. O ar era limpo, puro. A vida era pacata. Haviam poucos carros. O relógio parecia girar mais tranquilamente por lá. Quem não gostaria de morar naquela linda localidade? Quem não desejaria acordar com o canto das cigarras e das dezenas de espécies diferentes de pássaros?
  Naquela cidade, as flores nasciam em todos os cantos. Não estou brincando, é a pura verdade. É, até o matagal que cobria antigas residencias abandonadas exibiam belas flores, dos mais diversos tamanhos e cores. Não era necessário comprar rosas, margaridas, orquídeas ou cravos. Afinal, eles nasciam em todos os jardins e praças! Uma leve chuva sempre regava o vale pela manhã, deixando sempre algumas pérolas em formas de orvalho nas pétalas. Era tudo muito belo. A beleza era farta.
  Mas, como em qualquer lugar, sempre há aqueles que reclamam de tudo, que nunca estão satisfeito. Então, na cidade das flores, haviam moradores insatisfeitos com a localidade. Achavam tudo monótono, sem graça. Até parece que, para eles, as flores perderam as cores. Diziam que tinha árvores demais, que sujavam muito as ruas. Davam muito trabalho, alguns murmuravam. Mal sabiam eles quão caras aquelas flores eram na cidade grande, onde tudo era artificial.
  A metrópole era imensa. Mas, apesar de todos os arranhas-céus e carros que percorriam suas vias, ela não parecia ter nem paz, nem tranquilidade. Não era possível ter um minuto sequer de silêncio! Sempre aparecia algo: sirenes de ambulâncias, carros barulhentos, festas, discussões, etc. Os ouvidos urbanos eram insensíveis  Tinham que ser. Não podíamos ficar nos atendo a todo som que ouvíamos  pois eram aos milhares e diários! Seria impossível dormir!
  Quando pela primeira vez sai da vida urbana, sofri muito. A mudança era drástica. Meus ouvidos não estavam acostumado a um som estranho, um zunido. O que seria aquilo? Era o silêncio! Silêncio? Sim! Na cidade das flores havia silêncio. Mesmo nos dias de festa o silêncio logo predominava. Não havia silêncio na cidade grande. 
  O ser humano é engraçado. Sempre insatisfeito com o que tem. Sempre procurando mais. Quando vivem na tranquilidade, reclamam da monotonia, da dificuldade de acesso. Quando vivem na agitação, reclamam do barulho, do excesso de carros. Sempre reclamando, sempre criticando, sempre murmurando. 
  Que coisa chata! Deviam imitar aquelas flores da pequena cidade das flores. Não importava onde nascessem, seja em uma cesta de uma janela ou na lateral de um muro, sempre exibiam sua beleza, sem preconceito, para todos que tivessem dispostos a contemplá-las!


Alexandre Valério Ferreira



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