Diário do Prolixo
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PALAVRAS, palavras e mais palavras. Elas saíam freneticamente. Não davam nenhum intervalo aos ouvidos. Não se permitia nem ao menos respirar direito. Temia o silêncio assim como os vivos temem a morte. Estou falando do que? De uma pessoa prolixa.
Prolixo é o adjetivo de quem fala demais. Ele sente prazer em arrastar sua conversa o máximo possível. Não suportar sintetizar o conteúdo. Para ele, quanto mais, melhor. Seus textos e diálogos extrapolam o bom senso e faz o uso dos mais diversos verbos, advérbios e adjetivos.
Os discursos dos prolixos são extremamente longos. As redações feitas por eles ultrapassam o limite de linhas permitido. Seus trabalhos costumam estender além do tempo permitido. Seu raciocínio está perdido num emaranhado de verbos e adjetivos. Neologismos e arcaísmo são uma das suas principais técnicas para tornar suas mensagens gigantescas.
Ninguém se torna prolixo da noite para o dia. Tudo começa com uma semente: a crença de que mais sempre é melhor. Talvez venha da ideia transmitida pelos discursos de políticos. É notório como usam de intensa verbosidade na tentativa de conquistar o público, não por meio de argumentos fortes, mas pela simples ostentação de um extenso vocabulário. Falar de forma rebuscada e complexa parece ser característica peculiar dos grandes pensadores, intelectuais e sábios.
Leonardo da Vinci é considerado um dos maiores pensadores humanos. Suas pinturas e invenções impressionam a todos ainda hoje. Sua genialidade é um fato. Ainda assim, uma frase marcante dele é de que "a simplicidade é o último grau de sofisticação".
Uma mente genial consegue transformar um emaranhado desconexo de informações em conteúdo produtivo. Em outras palavras, simplifica as informações. De fato, o diferencial da mente humana é a solução racional de problemas. Para tanto, é necessário compreender o sistema caótico em que vivemos e encontrar maneiras simples de utilizar as ferramentas que neles existem.
Existe confusão entre complicar e problematizar. Aquele é uma ação que visa tornar uma situação mais difícil, desconectada, desorganizada, do que era antes. Este tem por objetivo entender um fenômeno com uma visão crítica. Em outras palavras, envolve enxergar além do óbvio.
Portanto, ao invés de tentarmos sermos prolixos e, dessa forma, supostamente nos exibirmos com o uso de vocabulário extenso, sejamos mais simples. A capacidade de desenrolar o emaranhado de informações é o diferencial daqueles que enxergam além e querem atingir um objetivo concreto.
De Alexandre Valério Ferreira
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