Diário da Lotação
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QUANDO o ônibus abriu a porta, dois rapazes saíram sem pagar. O cobrador nem percebeu. Todos os passageiros continuaram estáticos. Ninguém atravessava a catraca, pois não havia espaço na frente. Para eu entrar, tive que empurrar alguns e caçar espaço no corredor.
Não que isso fosse novidade. Em horário de pico, difícil é (para não dizer impossível) encontrar um coletivo vago. Os desafios, entretanto, permaneciam os mesmos. Aperto, mal cheiro, insegurança, desrespeito.
Em ônibus lotado, é por demais complicado criar sua zona de segurança. Braços, pernas e cabeças se entrelaçam num emaranhado confuso. Aos estudantes, que portam as mochilas, está sempre em conflito a vontade de colocar a bolsa no chão e o risco de ser roubado. Os passageiros que estão com o privilégio dos bancos nem sempre demonstram gentileza e fingem não ver nosso sofrimento.
Desagradável, entretanto, é sentar-se no lado do corredor. As pessoas em pé, comprimidas, faltam sentarem-se em nossos colos. Aqui e acolá uma bolsa atinge nossas cabeças. Nem todas pedem desculpas. Algumas sequer notam o dano que causaram. Todos estão ocupados. Com o quê?
Primeiramente, com a segurança. Andar de busão é perigoso. O fato de esperar o transporte [des] pontual já nos leva uma estado de constante risco. Dentro dele, a situação não melhora muito. Além dos assaltos, pequenos furtos são realizados por mirins e grupos organizados. Alguns inventam discussões e atritos, a fim de distrair os passageiros e realizarem seus crimes.
Segundo, o assédio é comum nos coletivos. Em especial, as mulheres ficam temendo as atitudes desrespeitosas de alguns seres que presunçosamente se arrogam de seres humanos. A nós, que estamos em condição mais favorável, cabe também a responsabilidade de fiscalizar a atitude dos outros e denunciar os crimes de assédio moral.
Por fim, é essencial ficarmos alertas no transporte público porque nossa parada pode chegar a nós, mas não nós a elas. Ficar atrás e tentar ir para a saída a uma ou duas paradas antes da nossa é correr o risco de andar alguns metros a mais. Então, tente ir logo para a dianteira. Admito que, por causa dessa cultura, muitos que estão ainda longe das suas paradas atrapalham o acesso de quem vai sair antes. Dilema complicado de se resolver.
Mas, deslocar-se de coletivo possui vantagens. Economizamos com gasolina, estacionamento, flanelinhas perigosos e roubos de automóveis. Além disso, aqui e acolá encontramos alguém interessante para conversar. Também, enxergamos mais os detalhes da vida urbana. Talvez isso não convença a todos (nem a mim), mas não podemos negar que são benefícios válidos.
Se você não tem o costume de andar de ônibus (é rico, né?), descubra as linhas mais seguras. Procure rotas que são bem conhecidas. Evite horários de rush. Utilize cartões que permitem o intercambiamento de coletivos sem custo adicional. Vá com algum conhecido.
Ah! Coloque sua mochila a sua frente. Não leve muitos itens valiosos. Coloque senha no smartphone. Fique atento. Mostre que não é um alvo fácil. Não confie muito, mas seja sempre gentil. Mesmo sentindo-se uma sardinha, terá o benefício de...é... será benéfico para o meio ambiente! E, por favor, segure a bolsa de quem está em pé! Seja educado!
De Alexandre Valério Ferreira
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