Os Afazeres Domésticos

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JOSEFA acordava todos os dias às 4:30 da manhã. Preparava o lanche dos meninos e o almoço do marido. Isso levava cerca de 1h30m. Depois, ainda precisava ajudar as crianças a se arrumarem. Ela era quem os acordavam. 
   Depois que eles saiam, ela tinha descanso... Mentira! Era ai que o serviço pesado começava. Lavar as louças, as roupas, regar as plantas, varrer a casa, limpar os quartos, lavar o banheiro, pôr as roupas no varal, preparar o almoço, fazer compras, chamar um pedreiro para ajeitar o reboco que estava desgastado, ir na costureira para arrumar a roupa do marido, ligar para o plano de saúde marcando consulta dos filhos, fazer um chá para uma amiga que estava doente, engomar a roupa, colocá-las nos cabides, passar o pano na casa, tirar a roupa do varal na hora da chuva, limpar as gaiolas dos passarinhos, alimentar e banhar o cachorro, sair um pouco com o cachorro, alimentar um gato de rua,etc...
   Poucos instantes ela tinha para si mesma. O rádio tocando músicas românticas era seu baluarte. Não curtia novelas da Globo, mas era apaixonada pelas mexicanas que passavam no SBT. Assistia com grande emoção, quando tinha tempo.
   Mas, como qualquer ser humano, se acostumou com a situação. De repente, acordar cedo era seu papel de todos os dias, mesmo dos fins de semana. Seu organismo já exigia aquela rotina. Mesmo quando por ventura ia visitar familiares e amigos distantes, não se continha e em poucos instantes já estava varrendo a casa dos outros. O serviço doméstico a absorvera. Parecia que ela já não era ela sem as tarefas de casa. Temia ser inútil e ficar esquecida se não as fizessem.
  Os assuntos do dia-a-dia eram os deveres de casa. Roupas, amaciantes e etc. Gostava de moda, é claro! E se zelava, o que era incrível. Questionava, às vezes, o porquê de sua vida ser tão cansativa. Por que seus filhos não a ajudavam? Era uma carga enorme nas costas dela. Como ela era o sustentáculo da casa, dependiam dela para quase tudo. Sentia-se, em alguns momentos, como uma mãe para seu marido. Era mãe de todos. A matriarca do lar.
   Estaria condenada? Não, não era desse jeito. Propôs organizar as atividades de casa. Com relutância, aceitaram. Também não foi difícil convencê-los. Bastou ela viajar sozinha para a terra de sua mãe por uma semana para que os de casa perceberem o quão pesado eram os afazeres domésticos. A consciência finalmente pesou-lhes.
  Com essa oportunidade, reorganizaram as coisas. Josefa reconheceu sua parcela de culpa. Não era apenas um certo egoísmo dos filhos ou descaso do marido. Querendo ou não, acostumara a si e aos seus familiares àquela rotina nociva. Ela aprendeu assim e da mesma forma repassou. A medida que eles foram se tornando mais independentes, ela pode relaxar. Sem contar que beneficiou os filhos, que antes estavam limitados a depender dela. 
   Gostamos de ser dependentes. É cômodo. Facilmente queremos ter alguém que nos sirva. Mas, também gostamos de ser livres. E quando percebemos quão bom isso é, não cedemos mais.
Joseja ainda acorda 4:30 da manhã. Seu organismo não cedeu nesse ponto. Mas, agora ela pode dormir um pouco mais. 


De Alexandre Valério Ferreira 


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