Pensar Demais

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PENSO, logo existo. Assim disse o filósofo Renè Descartes. Lendo sua obra, Meditações, reconhecemos quão interessante é tal afirmação. O ato de pensar é um dos grandes privilégios da raça humana e, por isso, motivo de grandes debates.
  E, afinal, o que é pensar? Pergunta difícil de se responder. Ainda assim, a maioria de nós entende mais ou menos o que é o ato de pensar. Costumamos relacioná-lo com inteligência. Talvez entendamos que um ser com mente desenvolvida é alguém que pensa mais e melhor do que a maioria. Pensar é motivo de orgulho, até de status. É símbolo de superioridade. Não é para menos que seja ofensivo dizer que alguém não pensa ou não sabe pensar sozinho.
   Entretanto, uma aplicação errada da palavra pensar, a meu ver, é na típica frase que utilizamos quando estamos indecisos. Dizemos que o problema de nossa procrastinação é que pensamos demais. Quantas vezes dizemos ou ouvimos alguém dizer isso? Muitas, certamente.
   Quando dizemos que gera-se problemas ao pensar demais, estamos, em outras palavras, defendendo a ideia de que a ignorância é uma benção. Dá-se a entender que quando somos inteligentes demais (pois pensar é sinal de inteligência e, quanto mais se pensa, mais inteligente é, certo?), sofremos mais que os outros.
   Porém, a frase "sofro porque penso demais" ou "meu problema é que eu penso demais" nos induz a um conceito errado acerca do ato de pensar. Compreendo que a verdadeira mensagem que elas querem passar é sobre ficarmos muito ansiosos com alguma coisa, remoendo problemas, preocupados com uma determinada situação, e, ainda assim, não encontrando nenhuma saída.
   Não se pode negar que os atos de remoer, ansiar e se preocupar envolvam o pensamento. O ponto em questão é uma associação feita com o ato de pensar, pois, nos leva a crer que estamos fazendo algo superior. Daí, parece que sofrer é bom ou que está necessariamente ligado à inteligência. Porém, é angústia está sendo causada por um momento de medo, de susto, de pânico. O emocional está predominando sobre o racional, o que nem sempre é bom.
   Nos momentos de ansiedade, temos a ilusão de que estamos refletindo profundamente sobre uma situação. Afinal, parece que a mente não para um minuto sequer. Milhares de ideias e preocupações aparecem constantemente. Não nos dão descanso. Supomos, então, que estamos pensando, refletindo, deliberando, raciocinando, ou seja, estamos indo para algum lugar. Às vezes, sentimos dores de cabeça de tanto pensar.
   Devemos, portanto, entender que provavelmente estamos gastando muita energia em vão. É como se estivéssemos nos distraindo com uma brincadeira de alguém na rua e, ao mesmo tempo, nossa carteira é furtada discretamente. De tão focados numa situação, ficamos inertes a muitas outras. É o princípio do ilusionismo.
   Quando dizemos que o problema que temos é que pensamos demais, incorremos na falha de achar que estamos no caminho certo. No fundo, porém, estamos correndo em círculos. Em outras palavras, podemos estar perdendo tempo e nos desgastando emocionalmente.
   Assim, quando estiver pensando demais sobre algo, tenha cuidado com sua concepção do que é pensar e de como você o está fazendo. Pode ser que você esteja apenas se focalizando no problema e, ao fazer isso, nunca conseguirá sair do lugar. A situação fica ainda pior quando supomos que estamos realmente refletindo muito, usando toda nossa capacidade mental para um fim útil. Podemos até nos orgulhar da dor e acreditarmos que não existe solução.


De Alexandre Valério Ferreira




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