Essência do Interior
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ESSÊNCIA do interior. Pelo menos foi isso que ele me disse. Fiquei surpreso, a princípio. Seria verdade? Eu seria no fundo um ser do sertão nordestino? Minha origem estaria amarrada ainda ao passado rural de meus antepassados? Ele não me explicou. Só deu um sorriso.
Naquele dia resolvi conhecer melhor a cidade de Viçosa do Ceará. Já fora algumas vezes lá. Cada vez, eu me convencia de que ser turista é ver apenas a embalagem. Para mim, não bastava mais viver apenas olhando para as vitrines, aqueles locais famosos e que atraíam milhares de pessoas para tirarem fotos.
Não que os pontos turísticos não sejam maravilhosos. São e muito. Porém, uma cidade é muito mais do que isso. Ela não existe por si só. Ela é formada por uma dinâmica social. São pessoas trabalhando, comendo, crescendo, estudando, vivendo naquele mesmo centro urbano.
Quando me emaranhei pelas cidade, descobri outras que vivem dentro dela, ou a margem da mesma. É como Fortaleza, onde existem várias Fortalezas, cada uma com suas peculiaridades, vivendo uma suposta e oficial unidade: o município. Esse local histórico também é assim.
Nas extremidades da serra, nos limiares da área urbana, rondavam diversas culturas de plantas. A lavoura sobrevivia nos declives que se arremessavam no precipício. Lá embaixo, ouvíamos o som das quedas d'água. Nesta cidade, vemos água brotar da pedra.
Claro que me encantei com aquelas plantações. Também senti-me muito bem recebido pelos agricultores. Isso não é crédito meu e sim do amigo que me acompanhava. Ele conhecia cada beco daquela cidade. Não era difícil, eu sei, pois Viçosa é pequena.
Ao longe (não tão longe assim, aparentemente), estava o Itarumã. Mas, em pouco tempo um cobertor de névoa o escondia. Passei um tempo sentindo aquele lugar. Requer tempo entender o que é estar e ser daqui. Pensar o passado, o presente e o futuro dos que moravam, vivem e habitarão este local. Quantos já calejaram suas mãos plantando seu sustento? E quantos outros não sentiram nada disso e usufruíram dos lucros?
Fiquei um tempo apreciando a paisagem. Sentindo o tempo passar. Aquele maravilhoso cheiro de mato. O ar mais limpo. O silêncio. Parece ser nada especial para alguns daqui, mas se somos de uma metrópole, contamos isso como algo valioso. Não tem preço viver momentos de tranquilidade. Principalmente, porque precisamos estar bens tanto por dentro como por fora.
Eu disse, então, para um dos agricultores que amava aquele cenário. Que aquele ambiente me fazia sentir bem. Ele me observou, enquanto eu fotografava tudo que para mim era maravilhosamente simples e belo.
Daí, ele falou o que eu destaquei no início. Eu tinha uma essência do interior, do sertão. Será mesmo? Não acredito que conseguiria viver em tamanha tranquilidade. Gosto da vida urbana. Mas, também amo a calma do interior. Sei que no fundo, o que aprecio na cidade é a convivência. Ela nos permite mais opções de conexões, ao contrário do interior.
Se fosse possível também de encontrar no sertão muitos níveis de vínculos e de acesso a cultura e educação como existem nas metrópoles, quem sabe eu não me mudaria para lá? Mas, quem sabe eu não me mude assim mesmo? Quem sabe não sou realmente do interior? É meu dilema.
De Alexandre Valério Ferreira
Muito show, continue assim.
ResponderExcluirObrigado! Eu tentarei sim!
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