Destrancando


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SEMPRE é mais fácil trancar. Fechar-se, encolher-se, esconder-se, desistir. São todos rotas de fuga para o conflito, para os desafios, para o risco de sentir dor. Tememos tanto enfrentar a realidade, que desenvolvemos lógicas intrincadas e argumentos racionalizados para nos convencer.
   Preferimos a dor da enganação do que a da verdade. Aparentemente, fomos ensinados que qualquer dor é ruim. Que qualquer problema é sinal de fracasso. Dificuldades são o desfavor ou castigo de Deus. Culpamos sempre alguém; nunca a nós mesmos. 
   Ainda que alguns se culpem exageradamente. No fundo, aquilo é um caminho de fuga. A gente se condena, pois é melhor enfrentar a dor da culpa do que a dor de se jogar nos desafios da vida. Não que sejamos fracos, inúteis, sem chances de sucesso. Pelo contrário, temos capacidades de superar, porém nem sempre queremos aceitar essa possibilidade.
   Trancamo-nos também no orgulho. Este sentimento, que o oposto da humildade, faz da gente fantoches de nosso próprio ego. Mas, imaginamos ter um ganho. Pressupomos que estamos nos protegendo. Assim, criamos uma carapaça de arrogância, intolerância, indiferença e insensibilidade.
   Porém, como um caramujo, no interior reina a fragilidade, a inconstância. São rotas de fuga para não enxergarmos o mal em nós mesmos. Preferimos nos trancar a nos expor e revelar nossas angústias. 
   Por isso, é preciso vencermos essas barreiras. Libertemo-nos das correntes que nos prendem à ilusão da fuga. Não existe fuga, não existe caminho fácil e monótono. São mentiras. Também, o mundo não é um presídio, um mar de tormentos e desgraças. O mundo é o mundo, cheio de coisas boas e ruins, imprevistos ou não. Cabe a nós destrancar nossas mentes e saber lidar com eles sem perder o dom de saber viver.


De Alexandre Valério Ferreira


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