Diário de Um Atendente de Call Center

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EU chego em casa sem ânimo para conversar. Preciso de algumas horas de silêncio e, então, retorno ao convívio social com meus familiares. Depois de horas a fio escutando de tudo no mundo menos elogios, é preciso uma pausa.
   Gritos. Reclamações. Acusações sem sentido algum. Tudo isso chega aos meus ouvidos logo cedo no dia. São clientes insatisfeitos que exigem soluções rápidas. Mas é compreensível e em alguns casos tomo silenciosamente o lado deles. Alias, na maioria das vezes é o que acontece.
  O problema são alguns clientes que parecem não compreender uma realidade simples. Nós, funcionários, somos exatamente isso: funcionários. Não somos executivos, diretores, gerentes e muito menos acionistas da empresa. Portanto, não é nossa culpa se ela não está cumprindo seu papel. A função que presto aqui é atender de forma humanizada as reclamações e elogios (nunca acontece) dos beneficiados pela empresa.
  Sem entender um fato tão simples, mas tão importante, alguns agem de tal forma que minha vontade seria de dar um murro neles. Gritam como se tivéssemos deficiência auditiva. Falam palavrões, como se fôssemos no mesmo nível deles. Xingam os atendentes, como se fossem eles que tomassem as grandes decisões da empresa. E o pior de tudo é que temos que suportar calmamente, pois, se reagirmos, seremos nós os que irão para o olho da rua.
  Como se não bastasse, alguns forçam minha paciência. São tão lerdos que preciso repedir 3 vezes a mesma coisa. Em outros casos, quando já falei por 5 minutos sobre como funciona determinado plano, eles simplesmente dizem que não entenderam nada e que depois ligará ou decidirá. Está no direito deles, é claro. Mas, é uma prova de paciência.
  O ambiente de trabalho não é tão agradável. Os colegas que tenho são ótimos, mas as cadeiras e computadores, não. Além disso, o som de mais de 100 atendentes falando ao mesmo tempo pode ser insuportável para alguns. Eu já me adaptei. Mas, quando fico de férias, perco o costume e sofro para voltar ao ritmo.
  E é claro que todo atendente de call center não quer ser atendente de call center. Ninguém tem o sonho de viver no telefone ouvindo reclamações. Espero crescer aqui na empresa (o que é pouco provável) ou arranjar um trabalho melhor (o que mais desejo). Enquanto isso, vou lidando com nossos respeitosos e amados clientes.



De Alexandre Valério Ferreira


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