Diário da Parada de Ônibus
Eu não era das mais belas paradas de ônibus. Mas, ficava em uma das mais importantes avenidas da cidade. A princípio, achei isso muito legal. Significaria que eu seria bem conhecida e teria muitas visitas todos os dias. Além disso, receberia maior atenção e boa manutenção. Estava animado. Seria bem legal. Acredito que umas 5 linhas de ônibus e 3 linhas de "topic" (transporte alternativo) passavam por aqui.
Eu pensei que entendia as pessoas humanas, até que conheci elas. Não sei, mas elas parecem ser meio doidas. Gostam de ficar suadas e ir a semana toda para o mesmo lugar. Gostam de comer umas parada que deixam elas mais gordas. Seria para armazenar energia para os tempos de escassez? Elas possuem um estranho interesse por entrar em veículos lotados. É sério! Quanto mais lotado, mais elas tentam entrar. O ônibus fica entupido de gente. Não cabe nem uma mosca. E, mesmo quando não cabe mais ninguém, existe sempre aquele que acredita que é possível. Vai entender?!
Estranho também achei foi um problema de visão que elas possuem. Não sei se é em todos os humanos. Parece que eles, ao ficarem pobres e miseráveis, ficam invisíveis para os outros da sua espécie. Eu tenho várias experiências que comprovam isso. Embaixo da minha cobertura, dorme sempre um senhor sujo e de cabelo comprido. Dizem que ele fede (ouvi uma senhora dizer para o marido). Eu não sei, pois não sinto cheiro, só enxergo.
O fato é que esse homem não era visto por ninguém. Ninguém olhava para ele. Quando andavam, faltavam passar por cima dele. E, quando ele pedia esmolas, as pessoas continuavam nas suas conversas como se não tivesse ninguém do seu lado. De fato, apesar de ele estar ali, ele não estava ali para o mundo. Os humanos esqueciam dele como se esqueciam dos entulhos que se acumulavam nas ruas. Engraçado, não é?
Admiro os humanos. Especialmente os pais e mães humanos. Não todos. Tem alguns que tenho aversão. Não entendo como alguns deles gritam alto e com ignorância exigindo que os filhos sejam educados. É paradoxal. Mas, vejo pais humanos que parecem ter pouco e que gastam tudo para os filhos, desejando o melhor para eles. Eu me lembro bem daquela senhora que deu o dinheiro do ônibus para a filha ir para a escola e lanchar, enquanto ela, parece que ia andar léguas a pé para seu próprio trabalho! Eu soube disso pelo vendedor que habitava minha parada durante o dia.
Quanto a esse vendedor, tenho raiva dele. Ele deixava tudo sujo e nem ligava. Dizia que estava ajudando os garis a ter emprego. E eu ficava com aquele amontoado de papeis e sacos plásticos. Mas, notei que é assim mesmo entre os humanos. A maioria gosta do lixo. Vejo isso na quantidade que tem no esgoto, na TV e nas músicas. Ainda bem que não sou humano.
Alexandre Valério Ferreira
poxa vida amei seu texto do "Diário da Zebra de Pelúcia", muito criativo... blog muito interessante e intrutivo... Continue assim Alexandre Valério, é difícil achar blogs que realmente valem a pena se olhar com calma e se ler os textos postados... Gostei mesmo! Parabéns!!!
ResponderExcluirO ser humano é mesmo..muito complexo ;D
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