A vila
No meio do nada, havia um vilarejo. E, no meio da vila, estava minha casa. Não era muito grande, mas tinha uma ótima varanda. Não era sobrado, mas era bem ventilada. A vida era tranquila. E, houve um tempo que deixei de gostar disso. Quando pequeno, gostava dessa vida. Mas, a medida que crescia, eu me sentia preso a este lugar. Estranho sentir preso num local tão aberto e espaçoso.
A questão era a modernidade. Modernidade esta que me iludia. A vida urbana parecia tão maravilhosa. Acesso fácil às coisas, centros culturais, teatros, cinemas e shoppings center. A cidade era um ambiente multi colorido. Aqui era mais esquecido que não sei nem o quê. Era onde "Judas perdeu as botas" ou "onde o vento faz a curva". Era isso o que diziam de nossa vila. Estranhamente, acabamos criando um certo sotaque e isso acabou destacando ainda mais as discrepâncias da vida urbana e da vida rural. Antes, eu considerava que vivia num ambiente urbano. Imaginava que aquilo já era considerado cidade. Estava completamente enganado.
Então, assim que possível, mudei-me para a cidade. Fiz o ensino médio e a faculdade na metrópole. Após isso, pronto! Vivia do trabalho. E essa vida durou um tempo de forma igual. De repente, comecei a sentir falta do silêncio da vila. Naquela cidade, silêncio não existia mais! Não importava a hora do dia, sempre havia algum barulho chato: carros, motocicletas, festas, aparelhos de som, eventos, tiros, sirenes de polícia ou ambulância. Enfim, era de tudo. Tudo menos a tranquilidade. Seu valor estava cada vez mais caro. Só quem tinha casas luxuosas, espaçosas ou coberturas em apartamentos poderiam desfrutar de algum silêncio. A tranquilidade e o silêncio era cada vez mais distante das periferias, virou LUXO. Foi nessa hora que bateu saudades do "meu interior".
Eu me espantei quando falei isso: "meu interior", uma expressão tão comumente utilizada pelos mais velhos que fugiram do interior para a cidade grande. Assim, decidi seguir minha vida no "interior" novamente. Triste foi saber que as coisas por lá mudaram também. A "modernidade" chegou.
Esse termo é tão estranho. Ele dá a ideia de melhoria, mas no fundo é um conjunto de benefícios e malefícios cujo saldo nem sempre é positivo. Vai entender essas palavras...? Decidi, então, ir para mais longe. Era longe do trabalho (demorava 1 hora para chegar), mas era bem melhor que passar as inevitáveis 1 hora e 30 minutos de trânsito que eu sempre enfrentava ao morar na cidade grande. E o melhor de tudo: voltei a ouvir o maravilhoso barulho do silêncio!
Alexandre Valério Ferreira
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