O Barbeiro

Barbearia. Fonte: http://riodetudoumpouco.com.br/blog/?tag=praca-maua (editada)
  Numa esquina movimentada do bairro, havia uma barbearia. Ele cortava e barbeava com profissionalismo. Conhecia melhor os clientes do que os garçons de restaurantes e bares. Sabia gostos e conseguia prever até mesmo o gosto de quem era novo no recinto. Era incrível. Ele mesmo se surpreendia quando conseguia descobrir o perfil da pessoa sem nem mesmo ser amigo delas.
  Assim, começando com uma brincadeira, o barbeiro se tornou um expert em entender o perfil dos clientes. Sabia quando estavam estressados. Era fácil notar: cara fechada, poucas ou excessivas palavras, movimento contínuo nas pernas, insatisfação crônica com o corte ou a barba. Chegava a ser cômico. Quanto mais reservado era a pessoa, mas fácil era notar suas variações de personalidade. 
  Difícil era lidar com os voláteis. Todo dia tinha um gosto diferente. Era um verdadeiro jogo de azar saber o tipo de corte que a criatura queria. Ele sentia pena dos carecas. Haviam os que aceitaram a situação. Sabiam que iam ficar carecas e adaptavam o corte às novas circunstâncias. Mas, sempre haviam os teimosos, que insistiam que aquelas "entradas" nas laterais ou lacunas no meio do couro cabeludo não era sinal de calvice. Haviam ainda os milagrosos, que exigiam que o barbeiro curasse eles e fizesse aparecer cabelo não se sabe de onde, pois só uns fiapos havia.
  Não menos problemáticos eram os cabelos rebeldes. Eram cheios de redemoinhos, caracóis, entradas e relevos no couro cabeludo que complicavam a vida de qualquer cabeleireiro. Para deixar o corte de cabelo bem definido, só muita agilidade e paciência. Além disso, nada que um gel fixador não pudesse resolver. Bem, assim era o dia a dia do barbeiro. Problemáticos ou não, cliente era cliente e ele valorizava cada um.


Alexandre Valério Ferreira



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