Álbum de Fotografias

Foto: http://raster.art.pl/galeria/artysci/grzeszykowska/grzeszykowska_album_berlin.jpg

De Alexandre Valério Ferreira

  Abri meu álbum de fotografias. Não sei bem porque fiz isso. Era uma daquelas terças-feiras que aparecem na semana como qualquer outra. Mas, havia algo de diferente em mim.
  Sim, você dirá que é saudades. Talvez o seja. Não sei a definição exata. Afirmo isso porque quando decidi olhar o meu passado, não estava pensando em ninguém específico. Não queria entender os outros.
  As fotos estavam em um velho álbum no armário do meu quarto. Vasculhei as fotos. Engraçado que com o passar dos anos, em especial, no século XX, as fotos impressas forma se tornando mais escassas. 
  Eu não era de uma família com longo histórico fotográfico. Portanto, boa parte desta documentação existe dos anos 2000 para cá. E eu me impressiono com as mudanças. Foi tudo tão rápido.
  Se a gente estuda história, percebemos como as coisas vão se modificando numa velocidade cada vez maior. Por volta dos anos 1450, Gutemberg, na Alemanha, criou a prensa mecânica, que facilitou a produção de livros em maior escala.
  Por volta de meados dos século XIX, Marconi inventou o rádio. Este obteve sucesso nas primeiras décadas do século XX. Mas, quando a televisão apareceu, rapidamente superou ele. Por fim, nos anos 1990 a internet já estava ganhando espaço e atualmente tem um papel significativo. 
  As coisas estão ocorrendo cada vez mais depressa. Rapidamente os produtos se tornam obsoletos ou com design antiquado. 
  Rapidamente nos sentimos velhos. Que absurdo. De repente, tudo muda. Geralmente, não gostamos de mudanças. Costumamos desejar que as coisas fiquem como estão. Isso também é um erro. Eu entendo que as coisas vão mudando. A vida é mudança.
  Olhando para minhas fotos, noto como eu mudei. Como o meu mundo sofreu diversas metamorfoses. Aqueles que eram tão importantes em sua vida vão, gradualmente, se distanciando e se tornam apenas lembranças. Já não existem, de certa forma. E suas vidas se tornam apenas narrações em nossa mente. Lembranças contadas de nós para nós mesmos.
Dizem que lembrar é viver. E, de fato, o é. 
  Senti isso ao olhar para as fotos antigas. Mesmo esses pequenos pedaços de tempo congelado, refrescam a memória com boas e más sensações. Às vezes, doe um pouco pensar naqueles que se afastaram. Mas, fico feliz ao ver os que permaneceram. Eles passam a ter um peso maior, um valor superlativo. 
  Lembro do filme Interestelar, cujo enredo aprofunda essa questão do amor, do apego, que supera as dimensões físicas, como o espaço e o tempo. E mesmo que estivéssemos numa quinta dimensão, onde ir e voltar no tempo fosse tão simples como dar um passo para frente e para trás, as lembranças e o amor ainda existiriam. Ainda pesariam em nossos corações. Esse filme me tocou muito.
 Tenho de aceitar. Não posso ir na contramão do tempo. O que passou, passou, e lembranças em mim deixou. Guardo as lembranças. Guardo as alegrias. Mas, deixo as mágoas para lá. Falando nelas: é incrível como nós somos idiotas às vezes, não é? Quantos motivos de raiva no passado são agora razões de uma gargalhada ou de um olhar de arrependimento?
  Amigos: alguns eu perdi. Outros, eu ganhei. Alguns permaneceram. Outros, eu pensava que estavam, mas não existiam além do perímetro da minha cabeça. A vida é assim: constante aprendizado. 
  Termino de olhar as fotos. Antes, não gostava de fazer isso. Sentia tristeza por aqueles que se afastaram. Não percebia quão egoísta era pensar assim. Não sou o centro do mundo. Existem alguns que nos querem perto e outros nem tanto. 
  Não é possível agradar a todos, mas é essencial ter aqueles com quem nos sentimos agradáveis. E são eles que continuo a valorizar. Talvez sejam os que permanecerão. 

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