A ponte dos perdidos

Foto: http://imgs.abduzeedo.com/files/articles/black-white-photography/4301025737_1dd71387d0.jpg
De Alexandre Valério Ferreira

  Sabe aquele momento da sua vida que você se pergunta sobre o que está fazendo ou para onde vai? Eu me sentia assim. Parecia que eu estava na famosa Ponte dos Perdidos. Já foi nela? Deixe-me falar da minha experiência.
  Em um dia daqueles em que tudo não faz sentido nenhum, decidi andar sem rumo. Precisava refletir um pouco. Decidi ir na ponte que interligava nossa metrópole a uma cidadezinha do outro lado cujo nome sempre esqueço.
  Na verdade, não tem quem lembre o nome da cidade que vem logo depois da ponte. Parece um termo indígena ou algo do tipo. Decidi, de qualquer forma, andar até lá. 
  Vale destacar que existe um fenômeno natural que sempre ocorre nessa ponte. Por várias horas, ela fica completamente coberta por uma densa neblina. Se, por descaso ou descuido, você se distrair, poderá ficar confuso sobre qual a direção da qual você vinha e para qual você ia. Por isso o termo "ponte dos perdidos". Mesmo assim, eu fui.
  Andei, andei, andei que cansei. Sentei-me um pouco. Dormi. Sonhei. De repente, acordei. Não havia nenhum carro (o que ocorre com frequência por aqui). Nenhum pedestre. Eu só via a claridade do sol, mas pouco nítida. 
   Olhei para um lado, nada. Olhei para o outro, nada. Nada mesmo! Nem uma placa. Nenhum rumo. Nenhuma direção.
Para que lado ir, então? Para minha direita ou para minha esquerda? E agora? O que eu faço? A ponte é muito extensa. Que desgraça! Que desgraça!
   Não via nada a um palmo de mim. Estou perdido. Estou perdido nessa maldita ponte! Gritei. Nem eco havia. Nada. Nenhum som além das ondas batendo suavemente nas colunas de concreto da ponte.
   Comecei a andar em uma das direções. E se eu tivesse na direção da cidade? Seria um desperdício. Se bem que eu me encontraria de novo... Porém, estaria longe da pequena cidade que eu tanto queria visitar... Se bem que não faz diferença mesmo agora. Espera! Faz sim! Eu queria mudança. Queria novos ares. 
   Vou para a outra direção! Mas... espere... e se eu estiver indo para a cidade agora? E se o outro fosse o caminho certo? Quanta indecisão. Sou muito ruim com decisões. Prefiro que os outros as tomem para mim... Pelo menos me livro da responsabilidade do resultado... É... me livro...
   O tempo voa e eu olhando para os lados. A fome bate. O cansaço domina. Estou ficando louco? Sozinho... nessa neblina... nessa ponte... Vão pensar que sou maluco. Talvez eu seja... Talvez não... Para onde devo ir?!
   Não aguentei. Comecei a passar mal. Seria a fome? Não sei... desmaio... 
  Aos poucos, eu me acordo. Onde estou? Em uma ambulância. Para onde estão me levando? Eles chegam em uma pequena cidade, mas por falta de leitos, eles decidem me transferir para a cidade.
   Escuto um deles dizer:
  - Encontramos fulano a 700 metros da cidade de *******. Ele estava inconsciente... Sim... Vamos transportá-lo para a metrópole... 
  Setecentos metros.... Não posso acreditar. Desisti tão perto e agora estou sendo levado para onde não quero por pessoas que não conheço. Que desgraça! Que desgraça! Como pude ser tão tolo?
  Quando não tomo decisões, outros as tomam por mim, eu querendo ou não. Assim, vou acabar sempre insatisfeito, incompleto. Esse foi meu grande erro. É como os psicólogos dizem: pessoas indecisas demais são autodestrutivas.





 




Comentários

Postar um comentário

Gostaram? Aproveite e comente o que achou do texto. Compartilhe sua opinião.

Veja também