Diário do Violão

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De Alexandre Valério Ferreira

  Nasce na selva. Vim da natureza. Sou madeira de cedro. Sou cordas de aço. Aço é ferro e carbono. Carbono é orgânica. Orgânica é vida. Não sou um objeto morto. Não sou um mero artefato musical. Eu falo. Eu me expresso.
  Quando meu dono se posiciona em seu banquinho no centro da praça que fica no centro da cidade, sei que é hora de começar o show. Aos poucos, o silêncio das minhas entranhas ocas passam a vibrar um som vivo. Uma melodia que acelera o coração de alguns e acalma o de outros.
  Meu dono parece ter um dom singular. Não está preso a uma única nota. Está sempre inovando. E toca os mais diversos estilos musicais. Nunca deixo de me impressionar. Sua capacidade me faz sentir vivo. 
  Sim, posso ter sido arrancado da seiva viva da minha nave mãe. Mas, vida continua vibrando em mim. Ela palpita em minhas cordas e ecoa do meio interior oco. Eu me sinto especial pois torno a rotina em beleza.
  A rotina é tudo sempre igual. E não é pleonasmo. Só quero dizer que minha rotina é sempre a mesma diferença. Todo dia uma nova versão do mesmo de sempre. Adaptações do comum. Amo mudanças que não perdem a essência.
  Agora, tenho que deixar de escrever. É hora de partir. Não podemos atrasar o trem. A vida não pode atrasar minhas melodias. Vou-me embora. Adeus e até a próxima. Tenha belas músicas para se alegrar.



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