Síndrome de Polyanna

Foto: http://3.bp.blogspot.com/_tYWRu0kwNwo/TRd1HorP5LI/AAAAAAAABqQ/Ky2u0dcgaf4/s1600/otimismo.jpg
   Você já leu o livro "POLYANNA"? É uma obra de Eleanor H. Poter, publicado em 1913. Resumidamente, a protagonista, Pollyana Wirther aplica o chamado "Jogo do Contente", ensinado por seu pai. Por exemplo, uma vez o presente de natal dela foram duas muletas, ao invés de uma boneca. Mas ela não entristeceu, pelo contrário, ficou feliz pelo fato de não ter necessidade de utilizá-las. 
   Ela vai para um orfanato e enfrenta muitas dificuldades, mas sempre procura ver o lado bom das coisas.  Uma vez, ela ficou trancada numa pequeno cômodo, mas ficou grata por ser possível ver e ouvir os pássaros cantarem. Assim, ela conseguia ser feliz.
   Não se pode negar os benefícios de utilizar essa técnica. Enxergar o lado bom, mesmo diante das piores adversidades, pode ajudar-nos a não perder o controle e nos entregar ao desespero. Além disso, costumamos nos concentrar nos problemas e resmungarmos pelo que não temos. Com o JOGO DO CONTENTE, seríamos capazes de analisar as situações pelas quais passamos de forma positiva. 
    Mas, cabem algumas ressalvas. O Jogo do Contente pode se tornar uma faca de dois gumes. Como assim? Alguns, de forma exagerada, passam a ver tudo de forma positiva, tudo é um "mar-de-rosas". Assim, deixam de enxergar a realidade. 
    Talvez vejam todos de forma positiva, o que é ingenuidade. Ou, talvez, se tornem passivos diante dos problemas. De que forma? Em vez de lutar para mudar sua situação, elas aceitam por achar que tem gente em condição pior. Quando o Jogo do Contente vai longe demais, se torna uma doença chamada SÍNDROME DE POLYANNA.
   Outra ressalva que gostaria de destacar é sobre como alguns aplicam o Jogo do Contente nos outros. Por exemplo, digamos que você desempregado ou está muito preocupado com a situação financeira da minha família. Ou, talvez, você esteja passando por um grande problema familiar ou de saúde. Então você decide desabafar com alguém, o que gostaria que ela dissesse?
- Veja o lado bom. Pelo menos você tem saúde ainda e pode arranjar outro emprego. 
- Pelo menos não estão passando fome.
- Pelo menos você tem uma família que se preocupa com você.
- Você tem câncer, mas pelo menos tem tempo ainda para se curar.
- Você perdeu uma mão, mas pelo menos não foram as duas.
- Não fique assim não, é SÓ...
- Entendo você perfeitamente e venci facilmente isso.

   São palavras consoladores? Sentimos reanimados quando alguém fala coisas desse tipo? Acredito que a maioria responderá que não. E por que  um "não"? Porque quando passamos dificuldades e desabafamos com alguém, o que mais queremos é compreensão e apoio. 
  Ao usar o jogo do contente de forma inadequada, a impressão que temos é que a pessoa está menosprezando os nossos problemas. É como dissesse: "você só vê as coisas de forma negativa"; "o problema é só esse e você faz tempestade em copo d'água"; "essa situação é tão simples de resolver... não sei como você não enxergou".
   Então, quando for utilizar o Jogo do Contente, tenha cautela. Não minimize os problemas dos outros. Isso é desanimado e pode deixar a pessoa que você queria consolar bastante decepcionada. 
    Muitas vezes, o melhor consolo é um abraço, um copo de café, um ombro amigo. Ações! Claro, devemos ser otimistas e ver lado bom das coisas. Mas não devemos ser escapistas. Procurando desviar dos problemas por acreditar que tem outras coisas boas para agradecer. Seja positivo, não ingênuo.


Alexandre Valério Ferreira


Em homenagem a minha grande amiga, L.F.







Comentários

Postar um comentário

Gostaram? Aproveite e comente o que achou do texto. Compartilhe sua opinião.

Veja também