Em pratos limpos
ELES não se falavam. Muito menos se olhavam. Havia uma divisória invisível, sem brechas, entre os dois. Um clima inexplicável que tornava o ambiente desagradável. Não gerava nojo, mas constrangia quem perto deles estava.
Difícil explicar como tudo começou. Mais difícil ainda era saber como terminaria. O silêncio é considerado a língua dos sábios. O tempo é um santo remédio e cura qualquer atrito, dizem.
Mas nem sempre é assim. Da mesma forma que uma doença não tratada pode se tornar um problema ainda maior, quando não cuidada, tende a ganhar força. Em outras palavras, a ferida emocional cria raízes e torna-se mas difícil de ser arrancado. Ela se cristaliza no coração dos machucados.
Deixar tudo em pratos limpos não é uma tarefa fácil, mas resolve muitos desentendimentos. O ponto mais complicado é o querer realmente resolver a situação. Não basta um "me desculpa" se vem seguido de um "mas parte da culpa foi sua, porque...".
É preciso controlar o orgulho infantil. Sim, essa praga que nos persegue a vida inteira e nos priva de grandes oportunidades. Quantas amizades, relacionamentos e histórias não se perderam por conta de uma birra? Impossível de ser contado.
Dói resolver atritos? Ora se dói. Porém, não vale muito mais a pena preservar uma amizade? Ainda mais quando o motivo do atrito tem uma força insignificante se comparado com o fogo do orgulho infantil? Sim, tenha responsabilidade e vá limpar os pratos!
De Alexandre Valério Ferreira
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