As representações da realidade
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PARA a cultura nordestina, a sala de estar é muito mais do que um simples cômodo. Enquanto o quarto ou a cozinha são construídos para o benefício dos que vivem no lar, a sala é projetada para os de fora.
É na sala que se constrói a representação social da família. Não é para menos, portanto, que nela se encontre o que há de melhor para ser exibido: a melhor (ou única) TV, a Bíblia, a estante mais nova, as taças ou copos de vidro, as garrafas de vinho, os troféus dos filhos, as lembrancinhas de festas e eventos. Tudo colocado ali para a admiração dos visitantes.
Sendo imbuída de tamanha importância, a sala de estar torna-se um centro de exposição de tudo aquilo pelo qual a família se orgulha e considera importante (ou pelos é assim desejam que os visitantes pensem).
Dessa forma, as paredes são cobertas com quadros religiosos. Representações de Jesus Cristo, de Maria, de santos ou com textos bíblicos mostram para os visitantes que são pessoas de fé.
Há muitos quadros com fotos de formatura ou dos filhos. Em alguns casos, uma única moldura se torna repositório de mais de uma foto. Além disso, os retratos pintados a mão - populares na década de 60 - estampam imagens de casais. Eram mais baratos que fotos coloridas e, de quebra, incluíam correção de falhas - como manchas e espinhas - ou ajustes na coloração da pele. Edições artesanais antes da era do Photoshop.
Joaninhas e outros animais de gesso ficam sustentados por pregos na parede da sala. Calendários com belas gravuras ou até mesmo panfletos com belos desenhos se tornam objetos de decoração. Tudo limpo com regularidade para mostrar que são pessoas zelosas.
Assim, quando visitar uma casa tradicional nordestina - de um familiar idoso, em especial - preste atenção na sala de estar. Ela não é apenas um mero cômodo, mas um verdadeiro museu da família e diversas histórias interessantes podem ser tiradas de lá.
De Alexandre Valério Ferreira
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