Janela do Metrô
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Peguei o metrô na estação central. Melhor andar algumas quadras até lá do que ir para a estação Alvorada, onde é muito mais lotada. Pelo menos poderei ir sentado. Alias, existem mais chances de isso acontecer.
E realmente fui sentado na poltrona da janela. Não que isso fizesse grande diferença num metrô, porém, sempre gosto das janelas. Tenho uma certa atração por elas. Elas são importantes. Não é à toa que estão ali.
O máximo que posso ver é o amontoado de cansados tentando entrar nos vagões. Quando ele começa a andar, então só me resta olhar para a escuridão. Naqueles túneis, a rotina governa. Horários fixos, colunas fixas, luminárias organizadas perfeitamente. Olhar, deixar de olhar e olhar de novo é a mesma coisa.
Esse é o chato do metrô. Pelo menos de trem podemos ver os cenários se modificando. Sentimos que estamos indo para algum lugar. Até medimos a distância. No metrô, apenas a inércia e os avisos da voz eletrônica que nos atualizam de nossa posição no planeta. Sem ela, estaríamos perdidos nesse labirinto subterrâneo.
Não sou claustrofóbico. Ainda bem. Não poderia me dar ao luxo de não ir de metrô. Apesar de sempre lotado de gente, é mais econômico e rápido. Até que não acho a escuridão do vazio tão ruim. Acabo me perdendo em pensamentos e sonhos. Em outros momentos, não é tão bom, pois acaba refletindo mais os olhares de todos que procuram fugir por meio daquela janela.
É uma situação incomoda, aqueles olhares. Sei que eles procuram o vazio lá fora, mas, volta e meia, seus reflexos cruzam os meus. Será que notou que eu notei que ela olhava? Não sei. Queria saber é o porquê de ter medo de descobrir a resposta.
Eu entendo que as pessoas preferem olhar para as janelas do que para os que estão perto de você. Afinal, o olhar é uma espécie de intimidade. É a janela da alma. É ver a vida do outro e decodificar o que ela está sentindo ou pensando.
Não gosto de pensar que outros sabem o que estou pensando. Claro, somos vigiados constantemente na internet e nossos dados pessoais viram fonte de lucro para grandes empresas. Talvez esse distanciamento e essa impessoalidade que faça com que aceitemos esse desrespeito com mais facilidade.
A vida é dessas coisas. Esse tentar entender e não entender. A dissonância entre o que se vê o que se quer enxergar. Aquele medo de descobrir o que nem mesmo nós sabemos sobre nós mesmos. A vida é esse vagão. A vida é a próxima estação.
De Alexandre Valério Ferreira
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