Janela de Proteção

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Não podemos viver sem janelas. Elas estão ali por um motivo. Elas existem para nos proteger. Proteger do quê? Do perigo de achar que não precisamos nos proteger. Elas nos iluminam e nos acordam. Refrescam nossas salas e quartos. Abrem caminho para os sons exteriores. São as janelas que nos trazem à realidade. 

   Um quarto sem janelas não é um quarto. É um depósito ou uma prisão. Elas são a válvula de escape. Trazem o oxigênio que precisamos. Permite que vejamos o céu azul e as nuvens brancas. Nossos olhares se libertam no vigésimo andar ao observar a vista da grande cidade, aquele movimento contínuo de ordem, desordem, pessoas e máquinas. O liquidificador da desigualdade.

   Janelas existem para não deixarmos de apreciar o que está lá fora. São a chama de esperança de quem está preso aqui dentro. É a rota de fuga do incêndio, o palanque dos acenos dos famosos, o aeroporto dos pássaros e moradia das pequenas plantas de apartamento. Ela abre caminho para a homeostase do interno com o externo, o essencial equilíbrio que precisamos.Claro, algumas janelas estão lacradas. Precisam manter a pressão no interior da aeronave ou do submarino. 

   Nossos olhos são nossas conhecidas janelas. Ainda assim, mesmo que sejamos cegos, podemos ver. Pois enxergar é a soma daquilo que captamos e daquilo que codificamos no cérebro. Quem é deficiente visual ainda vê, só que de outra forma. As mãos, a pele, os ouvidos, o olfato, todos se tornam os novos olhos e passam a fazer a mente captar e compreender o que está a seu redor, exterior ao seu ser. E, como os olhos, continuam a revelar o que no interior do corpo, da mente daquele que as possuem. 

   Assim, para todos a janela trás algo de bom. Ainda que de olhos vendados pelas circunstâncias, podemos ser protegidos por ela do esquecimento de que estamos vivos e que há muita coisa lá fora para se conhecer. A janela é um mundo.

Alexandre Valério Ferreira