O que as mãos diziam
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De Alexandre Valério Ferreira
Era tudo silêncio. O som era uma espécie de vibração. As músicas eram pequenos tremores harmônicos. Os lábios e línguas se moviam, mas não diziam nada. O ar reverberava pelas cordas vocais, mas nada era escutado.
Talvez isso deixasse alguém um tanto ansioso. Porém, outros já estavam acostumados. Haviam os que nunca souberam nada além disso. Seriam incapacitados por não poderem escutar? Seria o fim do entendimento?
Com certeza, não! Como um rio que ultrapassa qualquer desafio, sem deixar de ir para o seu rumo, que é o mar, os surdos não deixaram de se comunicar por não poderem escutar. Muito menos deixaram de aprender. Não estão num patamar inferior, mesmo que alguns os tratem dessa forma.
A diferença é que as mãos se tornaram os lábios, língua e as cordas vocais. Os músculos faciais se movimentam mais do que os dos que podem ouvir sons plenamente. Cada gesto e cada expressão facial se torna mais do que meros movimentos. Eles viram palavras, frases, melodias e discursos. Talvez, tenham um impacto mais forte do que algumas palavras. Não se diz que uma imagem vale mais do que mil palavras?
Os surdos conversam, sentem a música e alguns sabem falar. Ser surdo não é ser mudo. Pode ser que alguns não tenham desenvolvido o uso da fala audível, mas podem. De qualquer forma, suas mãos se tornam mais do que mãos, se tornam sua voz, seu clamor, sua presença.
No silêncio da multidão, as mãos dialogam. Gestos definem ideias. Expressões faciais conseguem fortalecer palavras. Mesmos distantes, é possível conversar, pois os olhos são os ouvidos.
As escolas deveriam ensinar libras. Ela é uma das línguas oficiais do País. Aprender esse idioma facilitaria a vida de milhões de pessoas. Pois, muitas vezes, os surdos são forçados a viver em uma cultura diferenciada, pois quase tudo é produzido apenas para as pessoas que conseguem ouvir. A acessibilidade ainda é uma novidade.
Porém, cada um pode agir de uma forma diferente do padrão geral. Entender o que é ser surdo. Aprender libras. Respeitar as diferenças. Não enxergar outros como inferiores. Tudo isso e muito mais. A sociedade dos ouvintes ainda escuta pouco. Talvez devessem aprender com os surdos.
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