O paradoxo do afogamento

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De Alexandre Valério Ferreira

  
O afogamento é uma das morte mais temidas por nós. Muitas pessoas não sabem nadar, o que acentua o medo. Alguns evitam ao máximo viajar de navio. Outros, são ótimos navegadores; porém, têm medo de se afogarem.
  Não vou me concentrar na fatalidade em si. Quero destacar o que geralmente leva ao afogamento. Apesar de trágico, essa tragédia por nos ensinar muitas lições importantes.
  Em geral, durante um afogamento, a pessoa se debate constantemente. Assustada e com medo, ela tenta ao máximo ficar acima do nível da água. Para tanto, movimenta seus braços e pernas como o máximo de força e velocidade que consegue.
  O fato é que, ao agirem dessa forma, ela acelera o afogamento. Em alguns casos, a fatalidade é resultado justamente dessa atitude, o que é tragicamente irônico. Afinal, por tentar sobreviver, a pessoa acaba por acelerar sua morte.
  Paradoxal também é que, por mais que use as forças e a sua velocidade, ela não consegue se manter flutuando. O esforço depreendido é, portanto, fútil, sem resultados, em vão.
  Mas, por quê? Porque a pessoa que não sabe nadar não aprendeu que não é a força e a velocidade das batidas das pernas e dos movimentos dos braços que definem o bom nadador. Só isso não é suficiente para nadar e flutuar.
  O segredo está na forma com que se movimenta. Braçadas ritmadas e pedaladas regulares e sem grandes deslocamentos nos mantêm flutuando e deslocando-se com agilidade.
  Braçadas fortes apenas machucam o corpo. Deixa a pele avermelhada. Cansam o organismo. Enfraquecem. O mesmo ocorre com as pernadas. Batidas fortes são inúteis, enquanto, batidas mais lentas e menos inclinadas são muito mais eficientes.
  Infelizmente, muitos que não sabem nadar não estão conscientes desses fatos. Assim, ficam muito assustados e, na sua luta para sobreviver, se debatem loucamente, o que dificulta até mesmo o resgate dos bombeiros.
  Dessa forma, quanto mais a pessoa cria forças para flutuar, mais ela se afoga. Se ao menos ela diminuísse o movimento; se ela apenas batesse as pernas lenta e regularmente; e procurasse ficar deitada para flutuar com facilidade; se ela não gastasse tanta energia com pancadas inúteis na água... Ah! Se ela agisse de tais formas, poderia sobreviver, mesmo sem saber nadar. Flutuaria e os resgatadores poderiam ajudá-la com mais facilidade.
  Acredito que isso serve de lição para todos nós. Talvez estejamos acelerando demais nossas vidas. Os eletroeletrônicos nos induzem a isso. Vivemos numa sociedade cada vez mais rápida. Porém, nosso organismo e a vida não funcionam da mesma forma.
  Quando exageramos no esforço, podemos estar apenas piorando a situação. Em muitos casos, é necessário dar tempo ao tempo. Claro, isso é difícil. Precisa ser aprendido, assim como nadar. 
  Dessa forma, pensemos mais sobre nossas atitudes. Não deixe se afogar nesse mundo de agitação. Vá um passo de cada vez. Suba de degrau em degrau e você poderá ir muito longe.


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