Janela da cobertura
Cobertura. Foto: Autor |
Alguns diziam que era loucura. Outros consideravam uma perda de tempo. Talvez fosse... Talvez não... Ninguém se importa mesmo. As pessoas só querem reclamar. Achamos que criticar seja sinal de inteligência superior e que elogiar é sinal de fraqueza ou uma forma de bajular os outros. É um conceito estranho, admito. Porém, bastante recorrente, se você perceber bem.
A cidade era grande e tinha muitos edifícios. Dentre todos os prédios, somente alguns possuíam uma cobertura que era acessível para os seus moradores. E dentre as coberturas que haviam na cidade, uma delas era visitada por alguém diferente. Era uma garota. Mas, não uma garota qualquer. Esta era diferente. Não eram os cabelos, nem os olhos que a tornavam especial. Era sua estranha atração por aquele local. Uma incomum sensibilidade por aquilo que era comum.
Se você fosse no prédio dela, teria uma visão ampla da cidade. Talvez se encantasse, de começo. A cidade era bem plana e bastava o edifício ter uns 20 metros de altura que já era possível observar tudo que havia quilômetros de distância... Bem, isso é algo interessante, pelo menos ela achava. E o que se podia observar do prédio dela? A cidade...Só isso? Exato. Nada mais? Nada.
Não, eu me enganei. Daquela cobertura era possível ver o dia nascer e adormecer. E era disso que ela gostava. Amava observar aquela cidade. Um organismo vivo. Mas, diferentemente de um ser vivo, cujas células trabalham unidas para uma causa comum, a metrópole era um conjunto de criaturas desunidas, que se achavam (erroneamente) independentes. Acreditavam (tolamente) que nada que faziam podia afetar os outros. Talvez não se importassem...
Mas, de qualquer forma, era engraçado ver a cidade como um organismo vivo. As ruas se pareciam com veias e artérias, dizia a garota. Os carros pareciam hemácias (vermelha) e leucócitos (branco). Claro, os amigos achavam aquilo uma tremenda loucura. E era... Ela tinha uma sensibilidade incomum. Costumava rir sozinha ao observar aqueles prédios piscando o tempo todo.
Porque piscavam? Bem, quando vemos a cidade como um todo, podemos perceber que existem diversas histórias ocorrendo em paralelo. Alegrias, tristezas, casamentos, festas, funerais, etc. E nessa dinâmica, diversas pessoas estão a entrar e sair de suas residências. Muitos estão indo dormir, enquanto outros estão apenas começando seu "dia" de trabalho. É um vai e vem constante.
A cidade não parava. Nem ela e nem as reflexões da incomum menina que observava aquela vida comum. Talvez fosse uma grande bobagem ficar imaginando a vida dos outros, pegando instantes que ela visualizava e complementando com histórias que ela mesma inventava. Era loucura mesmo. Uma doce loucura...
Alexandre Valério Ferreira
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