Janela Quebrada

Janela quebrada. Foto: autor.
   Ele acorda lentamente. Pontos brilhavam no chão. Eram milhares de cacos de vidro. Estavam todos esperando perfurarem alguém, com suas pontas para cima. E, para a felicidade deles, o dorminhoco rapaz estava só com uma sandália, pois a outra esquecera na cozinha.
   Ele encontra uma pedra bem polida, alaranjada. Com muita raiva, tenta acertar o buraco que ela fez na janela. Na verdade, ele acaba fazendo outro buraco (e maior também). Mesmo assim, pensava ele, acabara de se livrar da maldita pedra que estragara seu dia.
   Ele só não sabia que a pedra por ele arremessada do quarto andar atingira um ciclista. Este caiu de pernas para cima, ficando cheio de arranhões. Um motorista de um esportivo começou a rir dele. O ciclista tenta acertá-lo, porém, por nunca ter sido bom de mira, atinge um fusca. A motorista, assustada, acelerou, pensando que era mais um daqueles casos de assaltos "criativos" que o povo alerta nas redes sociais e por e-mails.
  Ao atravessar a ponte da cidade, cuja altura era de 40 metros, ela arremessa a pedra pela janela. A pedra atingiu um pescador. Este, com a cabeça sangrando, reclama do mundo e de suas injustiças. Em casa, arremessa a pedra para atingir os moleques barulhentos de sua rua. Errou.
   Um dos meninos pegou a pedra alaranjada polida e foi para a linha de trem. Ele tenta acertar uma das janelas. E consegue, mas não aquela que ele mirou. Os passageiros, irritados, reclamam dessas mães solteiras com seus filhos perdidos. Um jovem de 20 anos guarda o objeto na mochila.
    Ele era um ladrão. Usa a pedra para quebrar a janela de um carro. Não consegue. O carro alarma. Sai correndo e joga a pedra no carro verde do lado, quebrando-lhe a janela. A pedra fica dentro desse carro. Finalmente o dono chega. Irritado e chateado, arremessa a bendita pedra em uma direção qualquer. 
  Pena que a direção qualquer escolhida por ele era justamente a quarta janela da linha 41 - Centro - Ponte, onde se encontrava um rapaz estressado que morava em um apartamento no quarto andar, cuja janela possuía dois buracos abertos hoje de manhã e cuja finalidade nenhum vizinho sabia dizer.



Alexandre Valério Ferreira
  
  
   




Comentários

Veja também