Pneu furado

Pneu furado. Foto: autor.

   Era uma viagem longa. A estrada parecia não ter mais fim; o tédio, também. Viajam eu, meu pai, minha mãe, minha mãe e Sputnik (nosso cachorro). Cada um estava com um problema diferente. Cada um tinha uma ansiedade. Papai estava preocupado com algumas dívidas que em breve chegaria e não sabia bem como conseguir pagar. 
  Mamãe estava ansiosa com uma cirurgia que precisaria fazer e com as vendas, que estavam fracas. Já minha irmã, estava ansiosa com as provas e com algumas amiguinhas da escola que estavam caluniando ela. Eu estava com medo do meu futuro.
  Esses últimos meses, o contato entre nós havia diminuído muito. Eu almoçava ou com minha mãe ou sozinho. Quando saía, minha irmã chegava. A noite, mal via meu pai chegar. E minha irmã logo se enfurnava no quarto para usar a internet. Alguns iam ver TV. E eu ia ler. De repente, eu me sentia em um albergue, onde pessoas diferentes dormem no mesmo apartamento ou quarto.
  Então, viajar com eles parecia estranho. Não havia assunto. Havíamos esquecido de quem éramos. O dia podia estar bonito, mas não prestava atenção nisso, só nos problemas. Ninguém comentou que passávamos por uma bela reserva biológica e nem que aquela ultima cidade era histórica. O ambiente do carro estava me deixando angustiado. Assim, tudo ia na mais perfeita monotonia, até que um barulho acordo todos nós de nosso subconsciente corroído de raivas, ansiedades e orgulho.
  O pneu furou! E agora? Era só trocar. Eu nunca troquei pneu antes. Meu pai explicou como era. Enquanto ajeitávamos tudo, minha irmã chamou nossa atenção. Sem nos apercebermos, paramos em um trecho com um belo mirante da serra. 
  A visão era magnífica. Para ficar ainda mais perfeito, acabara de chover e um belo arco-íris começava a aparecer. Tiramos uma foto com a família toda. Durante o resto do percurso, papai contou sua aventura na Chapada da Diamantina. Enquanto isso, mamãe comentava sobre as belezas desta serra. Já minha irmã, tirava várias fotos e mostrava sua habilidade com a câmera. Eu não parava de conversar.



Alexandre Valério Ferreira




Comentários

  1. Era bom se um pneu furasse para cada problemático...like me!

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