Emaranhado
Imagem: https://turn2me.org/blog/types-of-anxiety-disorders |
Por Alexandre Valério Ferreira
EXISTIAM POR E PARA si mesmos. Os fios perdiam-se dentro do emaranhado que eles mesmo criaram. Não era possível distinguir onde eles começavam e muito menos onde terminavam. O resultado daquele caos era uma forma indefinida, abstrata; ainda assim, consistente, inerte, resistente à qualquer alteração.
Aquele emaranhado foi tornando-se cada vez mais complexo e entrelaçado. De repente, emperrou-se na garganta, rígido, fechando a epiglote, contraindo a laringe, asfixiando a alma por dentro. Como num choque anafilático, o corpo reagiu fortemente aos fios que por ele iam se perdendo e, para se salvar, matava-se.
Os fios, desconexos, entrelaçados, emaranhados, iam se distribuindo. Comprimiu o coração. Apertou o peito. A respiração ficou ofegante, difícil, rarefeita. As linhas cruzavam as artérias, queimando-as. O corpo estavam em chamas por dentro. As mãos tremiam. A pele gelava. Tudo paralisava-se. Somente um pensamento vinha à mente: a morte iminente.
Medo. Medo. Medo. E quanto mais este crescia, mais consistente os fios tornavam-se. Mais perdiam-se dentro de si mesmo. E os laços mais resistentes ficavam. Complicado era desfazer os nós. Nós cegos, sem lógica ou objetivo racional. Nós que existem por e para si mesmos. Criados por criar. Existindo por existir.
O mundo sumiu, cegado pelo emaranhado que cobria todo o corpo. Não havia luz no fim do túnel. Nem sequer o túnel. Só havia uma angústia crescente, vazia, nula, mas tocável, concreta, existente, ocupando lugar no espaço e no tempo. Não teve outra saída: levaram para o hospital.
Os fios cobriram a razão. A lógica perdera a lógica. O medo era a palavra final. O medo do medo era a angústia mais profunda que reinava naquela hora. De repente, a enfermeira. Duas injeções de Fenergan. Sono. Paz. Adeus, mundo...
Dormiu várias horas. Pareceram anos. Os fios estavam relaxados. Por um tempo, quietos ficariam. Até caírem novamente garganta abaixo. Até serem puxados novamente e, em resultado, fazerem nós cegos, entrelaçando a desordem, o desequilíbrio. Perdendo-se até o próximo ataque de pânico.
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