Diário do Ipê
Por Alexandre Valério Ferreira
LÁ SE ESTAVA ela no canteiro centra. Silenciosamente, plantada. De repente, violeta. Vibrava vida. Violeta vibrante. Deixou todo o resto de lado. As flores já não eram. Só as flores resistiam, efêmeras, na primavera.
O Brasil não é unido apenas pela língua materna. Também constitui-se um único povo por culpa dos ipês. Dos parques de Porto Alegra, aos canteiros centrais de Fortaleza, lá estão eles. Os ipês. Cloridos. Vibrantes. Singulares. De repente, trazem vida ao cotidiano.
Não tem quem não se impressione com a cintilância de suas cores, sua leveza em meio ao cinza urbano. Com uma chama de tons - violetas, brancos, rosas, amarelos - os ipês clareiam a obscuridade dos dias desesperançosos. Estão ali, como que dizendo que a luta não acabou, que ainda vale a pena viver, que ainda existe amor em SP.
Mas a rotina pode ser incrivelmente poderosa. Desatentos, muitos rodeiam a esplendorosa árvore sem ao menos levantar os olhos e perceber suas cores da primavera. Infelizmente, deixaram de perseguir o viver para acomodar-se, resignar-se ao fracasso do sobreviver. Não por falta de oportunidades, mas por falta de motivação. Não por fome ou revolta, mas por falta de energia para superar a zona do conforto em que vivem.
Os ipês estão por ai. Coloridos, vibrantes, em chamas de tons. Basta parar e apreciar. Mas requer um pouco de acuidade. Um olhar mais atento. Ver o velho como novo, o rotineiro como exótico. Somente assim para sair do acaso dos dias defeituosamente normais para enxergar o grito da vida.
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