Rua 42

Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqZnluX2T0j0VPf5Z66U-1BEtIZVp-6HUOfsj6ihRaB8kIN5G3Er0tarxgJmYXztSMsXshdHVc0VE-QRtcTkyMtrEgx4mrUCMxs0q-BWPIXjir3H09FRD9tcvHv-lJf3nPkf8iXhYhFrOA/s1600/42-logo-high-res2.png
De Alexandre Valério Ferreira

  Disseram para mim que a solução das minhas perguntas se encontrava na rua 42. Não entendi bem o porquê. Na verdade, para ser sincero, não sou muito bom de compreender a vida, o universo e tudo mais.
 O fato é que a rua 42 era a mais distante de todas. Ir lá envolvia passar por exatamente 41 ruas e 41 quarteirões. Destes, 21 possuíam cães bravos e 20 eram habitados por grupos de jovens perigosos.
  As quarenta e uma ruas que antecediam a rua 42 eram assustadoras. Todos tinham medo de todos. Todas as portas eram trancadas. Todos os muros eram altos. Todos os vizinhos eram desconhecidos. Todos os medos eram ocultos.Todas as alegrias eram desconhecidas.
  Mas, diziam as línguas que a rua 42 tinha algo de especial. Nela, as crianças ficavam na rua e as velhas senhoras conversavam sobre seu passado tranquilamente. Reza a lenda que os vizinhos eram todos conhecidos uns dos outros e que os muros das casas eram baixos, permitindo com que os moradores conversassem entre sim facilmente. Os medos não eram ocultos e as alegrias eram compartilhadas.
  Eu precisava conhecer a rua 42. Estava cansado de morar nessa minha rua, onde eu mal tocava os pés por medo de tudo e de todos. Queria ser livre e só conseguiria isso indo nessa estranha rua no final do bairro.
  - Irei na rua 42! - disse para mim mesmo em tom audível.
  E realmente eu fui. Não lembro bem de como consegui chegar lá. Não lembro de ter visto nenhum cão feroz e nem mesmo alguma gangue de jovens perigosos. Não lembro de ter visto nada do que me disseram. Não vi nada.
  Isso mesmo! Não se via nada. A rua 42 não tinha basicamente nada! Ninguém morava nela. Ninguém andava por suas calçadas. Não haviam velhas felizes e nem vizinhos sorridentes. Não havia nada além de casas vazias, desabitadas, em construção.
  Não entendi. Disseram que as respostas estavam lá. Estava exausto. Sentei-me debaixo de uma grande árvore que ficava no final da rua 42. Descansei um pouco. Cochilei e quando me dei por si, já eram quase 18:00 horas!
  Eu ia embora quando sem querer olhei para o céu. Um belíssimo pôr-do-sol como nunca vira antes em minha vida! No mesmo instante, uma velha senhora sorridente passou e disse:
 - Não se espante, meu jovem, pois a melhor vista do fim do dia é aqui na rua 42.
   Ela saiu, mas antes me deu um pedaço de bolo. Quando ia comê-lo, algo caiu em minha cabeça. Era uma fruta. Comi um pedaço. Estava deliciosa. Tudo era tranquilidade. Os pássaros cantavam nos galhos. Uma doce brisa me refrescava.
  Os morcegos já se degustavam das frutas. Deixavam cair sementes. As próximas gerações já estavam garantidas no chão. A árvore presenteava. A árvore recebia de volta. Os pássaros cantavam. Os pássaros ouviam os cânticos dos outros. Era uma verdadeira orquestra caoticamente organizada.
  Como a fruta e o bolo. Fico satisfeito. Estou bem. De repente, não precisava de muita coisa. Talvez, fosse essa a grande resposta. O número não era importante. A rua não era importante. A vida que era importante.



 

Comentários

Veja também