O acelerador de vidas

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De Alexandre Valério Ferreira

  - Faça mais! 
  - Faça melhor!
  - Faça mais rápido!
  - Acelera!

  De todas as direções e de todos os sentidos, recebemos uma pisada em nossa vida pedindo para acelerar. O pior é que parece que nunca estão satisfeitos com o que fazemos. Precisamos ir cada vez mais rápido. Temos que correr cada vez mais.

  O que está acontecendo? Está certo? Talvez nem todos questionem como a vida social anda funcionando, mas todos estão sofrendo os efeitos das mudanças que estão ocorrendo em nossa realidade. Uma nuvem de ansiedade tem penetrado nas mentes e pulmões de todos os que vivem nesse caos urbano que chamamos de civilização.

  As coisas estão ocorrendo cada vez mais rápido. Mudanças sociais, políticas, econômicas e ambientais. As tecnologias se renovam com velocidade incrível. Tentam seguir num processo cada vez mais acelerado. E para quê tanta velocidade?

  A verdade é que não suportamos tanta "aceleração". Tem uma hora que cansamos. E ai que se evidenciam os problemas acumulados: depressão, ansiedade, gastrite, doenças crônicas. Todos consequências de um ritmo frenético que somos coagidos socialmente. Muitas vezes, de forma totalmente inconsciente. 

  Justamente por ser inconsciente, acabamos por nos culpar e não nos concentramos em evitar o causador dos nossos males. É difícil explicar em apenas um texto como o nosso mundo está funcionando. São variáveis caóticas difíceis de serem mensuradas.

  Mas, uma comparação pode nos ajudar bastante. Tente imaginar que você está em um carro. Você está dirigindo. Você está no controle (ou pelo menos acha que está). É uma viagem. Alguns amigos estão com você. Eles começam a te pressionar a ir mais rápido. E agora?

  É claro que você quer agradá-los. Quer parecer valente e corajoso. Então aumenta de 60 km/h para 80 km/h. Parece que pouca coisa mudou. Fora da janela, belas montanhas e florestas encantam a vista de todos. Mas, não satisfeitos, eles te pressionam a ir mais rápido. Qual o problema? Vocês só querem chegar mais rápido ao destino, certo?

  Então você começa a ir mais rápido, alcançando os 100 km/h. Depois sobe para 130 km/h. As coisas começam a mudar. O mundo passa cada vez mais rápido. As curvas vão se tornando desafios para a vida. Os carros são inimigos para seu avanço. É necessário ultrapassar os "lerdos".

  Daí, você alcança os 160 km/h. Entretanto, o limite permitido é de 110 km/h. E agora? Continua, não é? Qual o problema? Só está ficando mais difícil se desviar de carros e animais na pista. Também perdeu-se a graça de observar a natureza, que agora está se tornando nada mais que vultos verdes. Tudo vira motivo de ansiedade e estresse. Você começa a discutir com os amigos.

  A pista não foi projetada para tamanha velocidade. O carro passa a derrapar nas curvas. Perde estabilidade. Qualquer ultrapassagem pode se tornar a última da sua vida. A diversão se tornou em medo e pressão para agradar os outros. A ilusão de poder no volante se evidencia, porém, é uma grande farsa.

  De repente, o carro perde força e para. Não suportou. O motor não está mais funcionando. E o resultado? A viagem furou. A pressa resultou em atraso de horas e um prejuízo financeiro ainda maior. As férias se tornaram tormento e, por pouco, não seria um funeral.

   Parece com nossas vidas? O sistema exige de nós cada vez mais. As novas tecnologias nos acostumam a querer tudo com a mesma velocidade de um clique. Desejamos relacionamentos rápidos. Evitamos "perdas de tempo". Somos impacientes. Percebe como estamos acelerando cada vez mais?

  E o que ganhamos com tudo isso? Deixamos de aproveitar a vida realmente. Trabalhamos tanto para ter bons planos de saúde que ficamos doentes. Faz sentido? Não precisa fazer, basta nos acostumarmos com a situação.

  Nossa mente é forçada a entrar nesse ritmo acelerado. E ela entra na onda, por assim dizer. E o resultado? A vida funciona de forma diferente. Não tem como pular etapas e, se o fizermos, os resultados não serão bons. Assim como uma fruta precisa de tempo para ficar madura ou um cozinheiro precisa de paciência para fazer um excelente prato, nós precisamos subir um degrau por vez. Se tentar forçar, poderá tropeçar. Então, o que parecia uma acelerada vantajosa se torna em um verdadeiro fiasco.