Diário de uma noite de loucura

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De Alexandre Valério Ferreira

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31 de Dezembro 

  Hoje, eu já me acordei desanimado. Não que eu seja um daqueles animais preguiçosos e egoístas. O nome disso é gato. Não gosto deles. Não é preconceito. Só não me agrado com a presença deles.
  Continuando, eu já estou começando a sentir um frio na barriga. O dia 31 de dezembro é o pior dia do ano. Odeio ele! Queria que nem existisse. Não consigo expressar tamanha raiva e medo que sinto por esse momento...
  Não sei se você sabe, mas os humanos (pelo menos uma grande quantidade deles), gostam de festejar a virada de ano. Eu não vejo sentido nisso. E, se pensar bem, realmente não o há. Porém, humanos são humanos e a mente é cheia de coisas. Você sabe, não é?
  Bem, no último dia do ano, em especial, durante a "virada de ano", eles tentam acabar com a raça dos cães, gatos e das pessoas calmas. Parece que eles tem um prazer sádico nisso, pois riem bastante, bebem, regalam-se e preparam-se com mais afinco do que para resgatar pessoas de enchentes ou da fome.
  A contagem regressiva da "virada", na verdade, deveria se chamar de "contagem para o tormento", para a desgraça, para o fim do mundo canino. Eu sofro muito... São tantas explosões, tantos gritos e sons agudos que meu cérebro falta evaporar! Não tem nada igual.
  Eu sinto um calafrio enorme no corpo só de pensar no que vou passar a noite. Na hora, sou tomando por um pânico descomunal. Já tentei de tudo para controlá-lo. Sério! Tentei colocar na cabeça que é apenas mais uma das coisas de humanos. Mas, nada me serve para acalmar a mente e o coração. Nenhum psicólogo me liberta disso.
  Meus donos sabem da minha aflição. Eles também não gostam desse barulho torturante. Eles queriam dormir. Mas, é possível?! Não! Existem vezes que viajamos para algum interior, mas hoje não será assim. Infelizmente, eu serei mutilado, massacrado, torturado, esganado, esmagado, evaporado, pela infinidade de explosões de fogos de artifícios e rojões durante vários minutos (se não, horas).
  E 2014 termina assim: em sofrimento da forma mais cruel possível. Alguns dizem que sou um pouco dramático. Talvez eu seja (não me importo). Mas, observe seus animais de estimação. Veja se eles gostam dessa festa de alguns comemoram. 
  Eu sou totalmente contra isso. Vou fazer um manifesto exigindo o fim dessa festividade. Quero silêncio, paz e comida abundante. Vão alimentar as pessoas e os animais que é mais útil para o mundo.
   Doce ilusão. Não tem jeito. Vou me preparar... Espero que eu sobreviva a esta noite agonizante. Se eu não aguentar, deixo para os que leram esta carta, alguns ossos de galinha e bisteca que enterrei no  quintal, próximo do pé de acerola. Eles ainda estão em ótimo estado. Aproveitem e sejam felizes. Adeus!


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