Na chuva

Chuva. Foto: Autor.
  O dia estava frio. O céu estava cinza, nublado. Uma leve neblina começava a cair. Ao redor da casa, gotejava o verde da natureza. Pra onde a gente olhasse havia vida. Era como se todos os animais e plantas daquela região ressurgissem das cinzas, depois de um verão quente e seco. Tudo novo era parte do ciclo da caatinga. Sempre era assim: seca e fartura. Bastava algumas gotas de água e a vida voltava a ativa.
  Eu amava aquele clima. Gostava muito daquele "interior", "interior" este a apenas uma hora da cidade grande. Era meu refúgio da loucura urbana, da frieza do concreto, do cinza sem vida. Era um sítio pequeno. Na vizinhança, haviam poucas moradias, diversas fazendas, casinhas e vilas. Era uma vida simples, se comparada com o dinamismo da metrópole.
  Eu era pequeno. Decidi andar pelo campo, investigar a vida. Estava tudo encharcado. Onde eu mexia, havia algum inseto ou animal. Era incrível. Parecia que milhares de formigas, besouros, gafanhotos, grilos, libélulas, sapos, rãs, lagartixas e muitos outros, protuberassem das profundezas esquecidas e aproveitasse aqueles instantes de fartura para se alimentar. Digo instantes porque o inverno aqui nem sempre dura muito. Mas, quando dura, o resultado aparece o ano todo.
  Coisa boa era andar no campo, na imensidão do verde. O mato crescia, flores apareciam por todos os lados. Parecia que eu estava num mar esverdeado. Melhor ainda quando começava a serenar. Gosta d'água que vinham de longe, muito longe. Aquele barulho do silêncio era ensurdecedor. Mas, quando chovia, começava aquele leve som das gotas caindo sobre as folhas. São lembranças que não esqueço. Trazem uma calma muito grande. Bons tempos que não voltam mais.
  Brincar na chuva é a alegria da molecada. Por alguma razão, sentimos uma atração por se molhar todo e pisar em todas as poças d'água. Quando pequeno, via meu pai desviando o carro de qualquer buraco ou poça. Eu ficava, então, imaginando passando em cima e molhando tudo. Será que eu continuaria assim quando adulto? Não sabia. Só sabia que o inverno era maravilhoso. Era quando todo o nordeste se tornava um oásis, uma enorme fartura de vida. Uma nova esperança.


Alexandre Valério Ferreira



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