O som do silêncio

Pico Verde, Açores. Foto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pico_Verde_(Norte_Grande)

  Eu sentei, parei e olhei. O som do silêncio era ensurdecedor. Não se ouvia buzinas, barulho de carros, sirenes e o movimento frenético de pessoas. Não haviam fábricas nem escolas. Não se ouvia nada além do silêncio. E tudo que eu via era o céu, as matas e o mar. Senti então que o silêncio me teletransportava para bem longe, longe de toda a loucura moderna.

  É verdade: o silêncio tem um barulho bem alto. Ele vai fundo. Atinge os tímpanos e a mente. Era tão alto que nada além dela era audível. E o mundo parecia tão, tão distante. Engraçado que naquela colina, naquela imensidão do nada, eu me sentia mais vivo, mais humano. E cada pequeno som, um canto de uma ave, o zunido de um inseto, o rastejar de um pequena lagarta, tinha um encanto maior.

  Que seria isso? Era o silêncio. Silêncio era sinal de calma, de tranquilidade. Se tem silêncio é porque não tem algazarra, movimento frenético. Na cidade, são tantos os barulhos, tantas vozes, tantos gritos, que acabam por perder o seu valor. E até uma explosão parece ser parte da rotina. Nem sequer piscamos os olhos ou nos assustamos com algum grito. Virou parte do cotidiano. Será?

  Não existe silêncio na cidade. Motos, carros, caminhões, aviões, comerciais, vendedores, propagandas, sirenes, ambulâncias, polícia, tiros, gritos, algazarras, paredões de som, festas, futebol. São tantos geradores de barulho que é impossível citar todos aqui. E, para ficar pior, geralmente ocorrem quase todos ao mesmo tempo. Se não, com uma irritante regularidade. O silêncio se tornou item de luxo, possível apenas para os que moram em mansões ou em coberturas nos arranha-céus.

  Por vezes, decido sair da vida urbana. Fugir. Esquecer. Aqui no campo a nossa voz tem vez, por assim dizer. Afinal, com aquela barulheira, precisamos gritar por um pouco de atenção. Mas, aqui não, uma voz suave já é perfeitamente audível. Sim, a loucura da vida urbana de algumas cidades tem levado a um comportamento cada vez mais anti-social. É aquilo que dizem: sozinho no meio da multidão. 

Alexandre Valério Ferreira