Falta de curiosidade que matou o gato



De Alexandre Valério Ferreira


  Adalberto era um gato estranho, a começar pelo nome. Seus donos tinham um gosto bastante peculiar por nomes. Tanto é que os dois filhos eram chamados por Isbã e por Estrenildo. Sabe-se lá a razão de tamanha excentricidade?
  A única coisa que sei é que Adalberto, o gato, era de hábitos exóticos. E, o pior deles, era a sua incrível falta de curiosidade. Não que ele não se importasse com o mundo ao redor... Aliás, ele realmente não se importava com o mundo ao redor...
  O que eu quero dizer é que realmente não tinha nenhum interesse pelo que acontecia ao seu redor. Era incrível. Ele era assim desde filhote. Nunca se interessara por aqueles brinquedos que fazem os gatos normais enlouquecerem, como bolinhas e ratinhos de brinquedo. 
  O que para seus donos era uma ótima qualidade (Pois, segundo eles, curiosidade é o que matou o gato), na verdade, levou o pobre bichano ao seu trágico fim. Deixe-me contar como aconteceu.
  Era um daqueles belos dias ensolarados e ventilados em Fortaleza. Os donos de Adalberto saíram para trabalhar logo pela manhã. Saíram às pressas. Estavam realmente atrasados, para variar.
  Talvez sem querer (espero eu), deixaram a sogra e o gato sem muitos cuidados naquele apartamento velho. A sogra era rica, já o gato era preguiçoso. Dois pesos para a família. E, possivelmente, sem motivo algum, esqueceram algo...
  Mas, era fácil notar o que estava errado. O cheiro não negava. Parecia enxofre, pensou o gato. Inteligente como era, lembrou que parecia com o aroma de gás de cozinha. Afinal, eles inserem essa substância para o odor alertar as pessoas do risco iminente. Mas, deixa isso para depois, pensou ele.
  Adalberto não é curioso, muito menos interessado em sair de sua rotina. Os vizinhos, por outro lado, estavam muito nervosos. O gato, sem nenhuma gota de curiosidade, não se importou com as batidas da porta, nem mesmo com o ar desagradável que começava a impregnar toda a casa. Podia ser as flatulências da velha, resmungou ele. 
  "E, se for, não estou interessado em comprovar", afirmou ele para si mesmo. A porta se abriu e, com ela, moradores eufóricos, procurando a velha, a sogra. Esta saiu atônita, para variar. Ele olhara em um relance e, no outro, já estava despreocupado, como se nada tivesse ocorrido.
  Infelizmente, não deu tempo salvar Astrogildo, pois o barulho que ele ouvira e não se preocupara, na verdade era um incêndio começando. Quando se deu conta, queria fugir e foi direto pular da janela. 
  Poderia ter se salvado, deveras. Porém, se tivesse sido mais curioso, saberia que pular daquela janela daria direto no quintal do vizinho, cujo animal de estimação era um bravo pit bull
  Talvez, ele poderia ter se safado dessa, caso sua curiosidade tivesse feito ele perceber que no canto da churrasqueira havia um buraco, por onde toda noite os gatos entravam para furtar a comida do cachorro. 



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