Janelas e lágrimas
O ônibus estava lotado. Mesmo assim, achei um banco desocupado. Fiquei muito feliz, pois a viagem seria longa. Não queria me cansar tanto. Porém, logo após eu me sentar, senti uma vontade egoísta de me levantar novamente.
Ao meu lado, havia um rapaz. Ele aparentava ter uns 18 anos. Não sei dizer exatamente. Não importa. O que realmente importava era que ele não estava bem. Não, ele não estava doente nem machucado. Acho que o problema era pior. Ele estava chorando.
Admito que aquilo era uma situação constrangedora. Talvez seja porque nós, homens, não gostamos muito de expôr nossas fraquezas. Acho que é um fator cultural. Afinal, era comum as pessoas dizerem: "chorar em coisa de mulherzinha".
Quando o vi assim, senti realmente vontade de escapar daquela situação. Mas, por alguma razão não o fiz. Pelo visto, não fui o primeiro a tentar fugir deste momento socialmente inconveniente. Afinal, o ônibus estava cheio de pessoas e ainda assim havia uma vaga...
Fiquei. E, mesmo assim, eu me senti culpado. Como assim "socialmente inconveniente"? O que estou pensando? Será que acho que o mundo é perfeito, que todas as pessoas estão sempre felizes? Será que não quero gosto de ajudar outros? Afinal, já enfrento os meus problemas. Talvez seja melhor deixar ele na dele e eu na minha. Para quê eu me meter? Talvez eu só piore a situação dele...
O que fazer então? Ficar só olhando não vale! Já haviam olhares curiosos suficientes. Curiosidade para ver o sofrimento alheio e nada fazer... É quase sadismo. Não, não quero ser assim. É de tanto cada um ficar apenas na sua que as coisas andam tão mal por ai.
Queremos tanto que os outros nos entendam, reclamamos tanto da frieza do mundo. Mas, o que fazemos a respeito? Escutamos nosso filhos? Escutamos nossas esposas? Escutamos alguém além de nós mesmos?
O ônibus chegou na parada final. Todos descem. Cada um para seu rumo, para seus problemas. O rapaz tenta ter forças para sair, talvez lutando contra a vergonha, a tristeza e as lágrimas. E eu: que farei? Convido o rapaz para comer algo na lanchonete ao lado. Ele aceita.
Alexandre Valério Ferreira
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