Ei, quero atenção!
Oi, eu quero sua audiência. Foto: Internet. |
O TEXTO É DE 2012, porém, está mais atual do que nunca. Em um artigo site comunicadores.info, Eduardo Cabral discursou a respeito de um fenômeno por ele intitulado de 'síndrome da TV ligada'. Basicamente, ele afirma que as atitudes humanas nas redes sociais são parecidas com a lógica das emissoras de TV.
A televisão é sustentada basicamente pela publicidade. Os programas tentam atrair a maior audiência possível. Como resultado, muitos verão os seus comerciais. Quanto maior o número de expectadores, maior o valor pago pelas empresas para ter uma propaganda transmitida durante aquele programa.
Conforme argumentado por Eduardo Cabral, as pessoas estão seguindo a mesma lógica nas mídias sociais. Estão constantemente em busca de audiência, ou seja, atrás de curtidas e comentários. E elas estão fazendo de tudo para alcançar esse objetivo.
Se em 2012 já se discutia tal similaridade, imagine em 2017, com a possibilidade de transmissões ao vivo no Facebook e no Instagran? Notamos uma vontade imensa de atenção. Alguns o negam veementemente, porém, tudo que fazemos nas redes sociais é com a intenção de que sejam curtidas e comentadas, senão nem sequer a postaríamos.
As fotos que colocamos são bem escolhidas. São as melhor fotografadas (ou editadas). Colocamos momentos que chamem a atenção da audiência, como viagens, festas e premiações. Escolhemos as que transmitirão a melhor imagem possível sobre nós mesmos.
Ainda que sejamos pessoas que não se vergonham em postar fotos constrangedoras ou que, em geral, desagradam a alguns, sofremos também da síndrome. Se não o fosse, por qual motivo as postaríamos? Como sabiamente cantava Renato Russo: "Quando o que eu mais queria / Era provar pra todo o mundo / Que eu não precisava provar nada pra ninguém".
Não existem ações impensadas. Se postamos ou fazemos transmissões ao vivo, é porque desejamos passar um determinado discurso sobre nosso Eu. Seja de uma pessoa independente, intelectual, viajada, divertida, lerda ou autodestrutiva. Nossas postagens revelam o que queremos e o que não queremos dizer sobre nós mesmos.
Todos desejamos ser ouvidos. É natural. Somos criaturas sociais. Porém, as redes sociais exacerbaram essa vontade. Como uma droga viciante, tornamo-nos dependentes e exigimos doses cada vez maiores. Por isso das inúmeras fotos, vídeos e transmissões da vida íntima. A exigência por audiência atinge um nível tamanho que utilizamos qualquer evento para compartilha-lo nas mídias sociais. Afinal, se não o fizermos, perderemos atenção dos expectadores. Estes consumirão postagens dos concorrentes.
A síndrome da TV ligada nos adoece de tal forma que esquecemos de viver. Tudo se torna parte da cena da novela. Captamos imagens de qualquer coisa a fim de não deixar nossa plateia entediada.
Nossa vida, nesse caso, se resume em uma atuação direcionada a outros, na tentativa de agradá-los. Precisamos nos analisar e perceber o qual naturalizado esse fenômeno se tornou em nossa mente. Se fomos treinados a viver em constante auto exposição, podemos nos reeducar no sentido inverso.
Não estou querendo incentivar o fim das redes sociais. Elas são úteis em alguns aspectos. Porém, o formato atual delas e as maneiras pelas quais ela vem sendo utilizada, trazem diversos prejuízos para a mente e a vida dos que a acessam. Pensemos bem em como nos expomos e também no exemplo que pretendemos dar. Façamos a diferença.
De Alexandre Valério Ferreira
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