Brincando de esconde-esconde

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De Alexandre Valério Ferreira

  Evidentemente, brincar de esconde-esconde é no transporte público não é prática muito popular. Para ser mais exato, jogar no horário de pico das linhas de ônibus. A fim de não deixar você confuso, posso dizer que eram cerca de 17:00 horas em Fortaleza.
  Eu retornava de mais uma aula. Exausto estava eu. Peguei a minha linha e, para minha surpresa, estava mais vago do que o normal. Tenho ido nessa rota desde que as anteriores se tornaram insuportavelmente conhecidas.
   Já sem ânimo e com vontade de tomar um revigorante banho, eu notava sem grande preocupação as pessoas que entravam no ônibus. Tudo seguia o script de uma quarta-feira, até que três senhoras pegaram essa linha.
   Elas pareciam estar na faixa dos 50 anos. Eram um pouco gordinhas. Estavam com roupas comuns: jeans, camiseta e sandália. Deviam estar vindo do trabalho. Talvez devessem estar muito cansadas. Ainda assim, a presença delas acabou por me surpreender naquele dia.
  Duas delas, com muitas gargalhadas atravessaram primeiro a catraca. Ficaram nas primeiras cadeiras do ônibus. A outra, após pagar a passagem, decidiu fazer uma brincadeira. Ela ficou em um canto, onde costumam se reservar para os cadeirantes e, por isso, não tem cadeira. 
  A outra procurou por ela. Até sussurrou com a amiga perguntando onde estava a última. Esta sabia da brincadeira, mas permaneceu calada. Gargalhadas e olhares infantis domavam a fujona. Ela se agachava e nos dava sinal pedindo que fôssemos cúmplices de seu jogo que, para ela, era compreensível por todos.
  Eu estava um tanto espantado. Parecia surreal. Afinal, deveriam estar loucas para retornar para seus lares (ou não). Além disso, será que não se importavam com os estranhos que as observavam de forma confusa, sem saber se deviam sorrir ou censurar?
  Por fim, aquele jogo de esconde-esconde chegara ao ponto final. Não foi difícil a amiga encontrar a outra. Os olhares envergonhados e encantados dos passageiros delataram a pobre criança adulta. As gargalhadas pareciam não ter fim.
  Não pude deixar de considerar tudo isso muito interessante. Sorri discretamente. Fiquei encantado com a alegria daquelas senhoras. Estavam na contramão dos sentimentos que predominam naquele ônibus. Pareciam ter esquecido a idade e os olhares de estranhos. Talvez isso não importasse para elas. Quem sabe, não devesse importar a mim também?

 


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