Desabafo de uma Coruja
De Alexandre Valério Ferreira
Quer saber de uma coisa? Eu estou cansado. Já não tenho mais paciência para suportar essa mentira. Todos que me olham, pensam imediatamente que sou uma espécie de sábio ou gênio. Isso é o que dá ser coruja.
O caso é sério. Parece que meu rosto tem feições similares aos intelectuais. Talvez sejam meus grandes olhos observadores. Ou, quem sabe, seja a aparência de óculos que se formavam em minha face.
Fico muito chateado com tudo isso. É que as pessoas criam muitas espectativas sobre mim. E eu não sou um... digamos assim... grande amante da literatura e da ciência. Claro, acho interessante, mas não é o meu forte.
Gosto de esportes. Gosto de voar. Gosto de caçar. Esse é meu jeito. Meus grandes olhos são para encontrar meu alimento e enxergar melhor a noite. Não sou um grande sábio. Vivo pedindo conselhos para minha mãe. Sem contar que sou um pouco lerdo para matemática. Desculpe os que amam cálculo, mas eu odeio tudo aquilo.
Esse estereótipo de intelectual é estressante. Por mais que eu não queira ser genial, costumo me sentir forçado a isso. É embaraçoso ver o rosto de quem descobre que não sou um Alberte Einstein do reino animal. Rostos contritos, olhares perdidos de decepção. Isso doi um pouco. É sério...
Queria que as pessoas criassem menos expectativas exageradas. Deveriam focar no que realmente existe. Mas, sem perder as esperanças, é claro. Poderiam ser como Ariano Suassuna - um realista esperançoso.
Então, meu caro amigo, não venha com a tal da álgebra linear nem com questões de física quântica. Não sei nem por onde começa! Porém, se quiser que eu te ensine a voar, sou ótimo instrutor. Mas não crie falsas expectativas. Se você não possui asas, provavelmente não irá longe... Desculpe, mas é a verdade.
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