O homem velho

Van Gogh, http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c0/Vincent_van_Gogh_-_Old_Man_in_Sorrow_(On_the_Threshold_of_Eternity).jpg

De Alexandre Valério Ferreira  


  Eu simplesmente não queria aceitar. Seria apenas um sonho? Tudo ocorrera tão rápido. De repente, já haviam se passado várias décadas. O meu vigor já não era o mesmo. Os sonhos também não. Tudo mudara.
  Eles não sabiam, mas era doloroso envelhecer. Parece que ninguém esperava muito de mim. Acho que pensam que quando envelhecemos, deixamos de funcionar. Já não procuram minha ajuda. E me consideram incapacitado para tudo.
  Inútil. Essa é uma palavra dolorosa. E depois que me aposentei, ela fincou em meu peito. Tento tirá-la, mas a cada "velho", "ele é gaga", "o véi não consegue não", ele penetrava mais fundo. Que dor. Não era a coluna. Era o coração.
  Não, não se preocupe. Não é infarto (Eu espero que não...). Mas o que quero dizer é que aquelas palavras me machucavam. Eu posso ter envelhecido no corpo, mas minha mente não. Ela amadureceu. Os jovens não entendem isso. Só enxergam o preto no branco. A visão deles é fraca, não a minha.
  Agora, discussões se tornaram mais incomuns. Poucas coisas me afetam (tirando a velhice, pois estou me aceitando ainda). Quando percebemos a finitude da vida, passamos a sentir a beleza de cada detalhe. O que antes tinha grande valor, agora já não representa nada. As mágoas do passado, a memória já tratou de esquecer. 
  Não, não sou aquele velho resmungão. Também não estou velho e cheio de arrependimentos e mágoas. Rancor é um veneno que nós mesmos tomamos. É... pensando bem, não é tão ruim estar envelhecendo. De repente, tem o seu lado bom. Sim, acho que estou amadurecendo!



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