Pôr-do-sol e as estrelas

Foto: http://educacaoespacial.files.wordpress.com/2010/10/cometa-pan.jpg?w=630&h=420

  Eu estava atrasado. O tempo parecia estar correndo. Eu queria com todas as minhas forças tirar uma foto daquele pôr-do-sol magnífico. O local ideal era o alto de uma colina. A visão era de tirar o fôlego, pois poderíamos captar o céu colorido e as pinceladas dos raios solares nas montanhas. E, se tivesse sorte, uma neblina daria um retoque no cenário. 

  Eu fui o mais rápido que podia. A estrada para lá era perigosa, pois haviam muitas curvas. Eu estava cada vez mais ansioso, pois às 18:00 horas anoitecia. E eu tinha apenas 35 minutos. Poderia tentar captar esse espetáculo na estrada, porém, as árvores e montanhas ao redor me impediam de enxergar direito o sol. Eu estava ficando sem esperança.

  No final das contas, não foi necessário se preocupar mais com a esperança, pois perdi aquela chance única. E, pela previsão do tempo, amanhã iria chover. Poderia tentar segunda-feira, mais era o dia de voltar para casa. Fiquei muito chateado. 

  O meu amigo, que fora comigo para o mirante, estava fotografando ainda. Eu passei mais de uma hora vendo as outras imagens que captei no decorrer do dia. Apesar de terem ficado boas, nenhuma delas tirava minha insatisfação. Depois de um tempo na colina, voltamos para o hotel.

  Dias depois, vi esse meu amigo mostrando algumas fotos para nossos colegas. Eu me impressionei com as fotos. Eram de um belo céu estrelado. Nunca vi nada igual. Era possível até mesmo ver a via láctea! Incrível! Depois de olhar as fotos, perguntei onde foi que ele fez esse trabalho tão bom, pois queria ir lá. Bem... fiquei arrasado ao saber a resposta: foi na colina do pôr-do-sol que perdi...

  Aquilo me deixou triste. Mas, era uma tristeza diferente. Eu estava frustrado. Como não pude enxergar tamanha beleza? Como deixei passar a chance de ver aquelas estrelas? Sinceramente, não lembro desse céu estrelado. Só me lembro daquele "pôr-do-sol" que me atormentou. "Era culpa dele", pensei de começo. "Foi por causa dele que fiquei irritado", resmunguei.

  Depois de alguns minutos, voltei à realidade. Percebi, então, minha grande tolice. Como pude ser tão egoísta? Como pude ser tão cego? Perdi tanto tempo reclamando de uma oportunidade perdida no passado, que não conseguia mais enxergar outras no futuro. Gastei tanto sentimento em uma decepção que acabei estancando, travado no tempo, e perdi oportunidades de ser feliz.

  De fato, às vezes, criamos grande expectativas sobre algo ou alguém e, quando menos podemos imaginar, não dá certo. Parece que todo o resto não importa mais. Claro que é natural ficar triste, desanimado. 

  Mas, precisamos perceber que uma porta agora pode estar fechando, mas outras poderão abrir mais a frente. Então, a solução não é resmungar um passado imutável, mas lutar por um futuro melhor. Se não, poderemos nos tornar cegos para algo que poderia ser muito melhor para nós.

Alexandre Valério Ferreira