A grandeza de um menino




SE TEM UMA fase que todos lembram com grande saudosismo, é a infância. Parece que só temos boas recordações. Era uma época incrivelmente produtivo, intenso e divertido. É comum vermos o passado como um período melhor que o presente.
   Na infância, o mundo é uma novidade. Tudo nos surpreende. Tudo é inesperado, imprevisível. A falta de experiência de vida nos proporciona essa sensação. Tudo parece maior e mais demorado nessa época.
    Por exemplo, pense um pouco naquela viagem para o interior dos seus pais (ou para qualquer outro lugar). Talvez o translado parecesse extremamente longo. Se foi na infância a última vez que o realizou, provavelmente notará que o percurso é bem menor do que a sua memória insiste em afirmar.
   A pia do banheiro parecia bem mais alta. O tobogã era nas nuvens. O carrinho de brinquedo era tão grande quanto qualquer outro carro utilizado pelos adultos. O tempo passava mais devagar. As semanas eram mais longas. As chuvas, mais demoradas. Os caminhos, mais longos. 
    Sim, a medida que alguns informações vão se tornando parte de nossa experiência, menos atenção elas recebem. A intensidade de percepção delas diminui, já não causam  mais surpresa. Claro, isso é natural e não poderia ser diferente. Seria muito difícil termos novas percepções, caso ficássemos presos às antigas. 
   Toda fase da nossa vida tem um quê de especial. Não podemos superestimá-las (nem subestimá-las, é claro), como é o nosso hábito de fazer com relação à infância. Pense bem: tudo parecia calmo e seguro, sem responsabilidades, mas isso do seu ponto de vista.
   Se olharmos pela memória dos nossos pais, perceberemos que talvez tenha sido uma fase exaustiva e cheia de tribulações. Na infância, somos resguardados de muitos perigos. Claro, por razões óbvias: não estamos ainda preparados para lidar com eles. Assim, nossos pais (ou aqueles que cuidaram da gente e tinham esse papel) aguentaram a barra pesada para nos aliviar dos grandes embates na vida (pelo menos até que estivéssemos prontos para eles).
   É evidente que a história de cada um é única. Alguns não tiveram uma criação complexa, com pais ausentes ou indiferentes. Outros, enfrentaram perdas e tiveram que lidar com questões de adultos antes do tempo. Infelizmente, o mundo não é muito justo.
   Ainda assim, apesar de todos esses aspectos, é importante analisarmos nossa infância com naturalidade. As experiências dessa fase influenciam bastante nossa vida atual. Compreender isso pode nos ajudar a lidar com nossa personalidade e, talvez, em alguns casos, tomar novos rumos na vida.


De Alexandre Valério Ferreira




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