O monstro do armário

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De Alexandre Valério Ferreira

  Está tudo escuro. De repente, um barulho... O que será? Olho em todas as direções. Nada. Tudo no quarto está nos seus devidos lugares. Torno a me deitar. Foi só um susto (ou não?). Quando ia pegando no sono, outro ruído...
  Parece que vem do armário! Escuto um rebuliço. Ele para. O silêncio torna a dominar o ambiente. Um estalido me deixa alerta novamente. O que será? Será que vem do armário mesmo? Quem está lá dentro? Espero que não venha para minha cama!
  Estou nervoso. Eu me cubro com o cobertor. Dou uma espiada rápida. Sombras estranhas me assustam. Parecem se mexer. O pavor começa a tomar conta de mim. O que fazer? Só me resta ficar escondido.
  Um guincho rápido me leva de volta ao tormento, ao medo. O monstro deve estar saindo do armário. Vejo sombras tremulando. Ele estará se aproximando da cama? E agora?! Eu me cubro por completo. Começo a suar. Estou com o coração a mil por segundo.
  Vejo sombras de garras! Vejo sombras de dentes pontiagudos! Vejo olhares assustadores. Algo no fundo do quarto se parece com uma pele asquerosa de algum monstro réptil. Um dinossauro? Um mutante? Já vi muito isso em filmes. 
  O pavor aumenta numa velocidade incrível, ao contrário do maldito tempo, que parece se divertir às custas de meu sofrimento (talvez esperando o momento agonizante de meu triste fim). Amanheça, por favor.... Por fim, durmo. Enfim, amanhece. Que noite terrível!
   Conto tudo para meu pai pela manhã. Ele me observa e daí, sai. Mais tarde, ele me trás uma lanterna. Comprou quando vinha do trabalho. Digo que não quero dormir só no meu quarto. Ele me diz simplesmente para ligar a lanterna na direção do "monstro". Digo que não terei coragem. Ele simplesmente diz que isso resolverá tudo e que devo confiar nele. Está bem...
   É hora de dormir. Estou em pânico já. Até me falta ar. Já faz uma semana que meu pai disse aquilo e estou com a lanterna do meu lado. Porém, nunca tive coragem de ligá-la. Penso: se eu acender ela, talvez o monstro me encontre. Ele deve estar me caçando. Talvez pelo som da minha voz ou pela claridade. Não sei.
  Entretanto, na décima noite, às 2:56 da manhã, sinto que o monstro me achou. Sinto ele se aproximado. Minha perna coça! É ele! É ele! É o fim! É o fim! Não tem mais jeito. Então, repentinamente eu me lembro da lanterna do meu pai! Sim! A lanterna! Eu a ligo! Aponto na direção do monstro e fecho os olhos! Espero o fim...
  O silêncio toma de conta. Decido olhar devagarinho. Nada. Aponto a luz da lanterna para as prateleiras e... nada. Direciono para o armário: nenhum barulho. Com as mãos ainda se tremendo, aponto para baixo da minha cama e olho: nada. Nada. Em nenhum lugar.
  Escuto um guincho! Aponto a lanterna. Era o vento movimentando a porta do armário, que por sinal, estava com o trinco quebrado (eu sabia disso a mais de um mês). Outro ruído! Clareio e percebo que era um grilo, pequeno e indefeso. Não acontece mais nada. 
   Fiz isso durante vários dias. E cada vez ia perdendo mais o medo. Meu sono se tornou agradável novamente. Um dia, entretanto, eu esqueci a lanterna. E nessa mesma ocasião, ouvi estalidos vindo do armário. E agora? Eu me levanto, observo, saio da cama. Acendo a luz do quarto. Abro o armário. 
  Descubro, enfim, a origem dos estalidos. Era um ursinho de pelúcia que ligava devido o peso das roupas e objetos que colocávamos. Porém, estava com a bateria quase descarregada. Nem lembrava mais dele.
  Eu me sento na cama. Reflito sobre tudo isso. Começo a rir. Anos depois, ainda penso nesse acontecido. Fico imaginando em como somos capazes de imaginar coisas. Criamos medos. Eles se baseiam em mentiras que eu mesmo inventei. E quanto mais eu acreditava nessas mentiras, mais reais elas se tornavam. No fundo, querendo ou não, eram apenas fantasias.
  Analisando recentemente sobre os medos, percebi que muitas pessoas o possuem e não sabem lidar com eles. A gente se torna adulto, mas com temores que veem da infância. São baseados em "crenças", em situações e pensamentos que os tomamos como "fatos verdadeiros" e com base neles desenvolvemos várias dificuldades.
   O medo é a essência da ansiedade. O medo pode se tornar tão grande que causam reações físicas no corpo, como falta de ar e taquicardia. Mas, está tudo em nossa mente. O risco não é real. É imaginário. Reconhecer isso e enfrentar é a grande sacada. 
   Tenha cuidado com seus medos. Claro que devemos ter medo de um animal feroz solto, de uma pessoa armada ou de uma ponte desmoronando. São medos reais que nos protegem. Mas quando inventamos medos, a situação é outra. 
   Faça uma autoanálise. Verifique se no fundo você não tem medos irrealistas. Poderá se sentir muito melhor. Se achar isso difícil demais, procure ajuda profissional. Não deixe que o medo domine sua vida.



 

Comentários

  1. Adorei ! Eu super tenho medo do fracasso , mas não deixo que me esse me impessa de fazer nada ! #valeriosegarante #alexblogueiro

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