O prazer na desgraça do próximo

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De Alexandre Valério Ferreira

  Era egoísmo. Eu sabia disso. Entretanto, parecia inevitável. Eu até que me sentia culpado, mas com o tempo a gente vai se acostumando. A gente se acostuma com tudo, até com o que está errado. Sei que não era certo eu pensar dessa forma. Precisava me corrigir.

  A prova de ontem fora especialmente difícil. Sempre era. O professor de Estatística não pegava leve. Eu tinha medo medo de ser reprovado. A maioria de nós tinha. Mas, um dos nossos colegas era excelente. Ele passou com notas máximas em Cálculo I. Eu passei "arrastando". Não sei o que ele tinha, mas era bom.

  Porém, a prova de hoje fora especialmente ridícula. Era para reprovar, não havia dúvidas! Fui massacrado. Eu me senti dilacerado após 2 horas de pura tortura mental. E agora? Será que vou reprovar? Será que sou burro? Precisava saber o que os outros acharam do teste.

  Admito que me senti feliz. A maioria estava com a cara tão depressiva quanto eu. Eram reclamações para lá. Críticas ao professor, ao ensino, à Universidade, ao País. Mas, quando o melhor aluno da sala finalmente terminou, todos o olharam curiosos. 

  O que esperávamos? Que ele tirasse uma excelente nota. O que desejávamos? Que ele tivesse se dado mal no teste. Por quê? Não é que não gostássemos dele. Pelo contrário, ele é um cara super bacana e humilde. Coisa rara hoje em dia. Mas, é que... você sabe... se ele foi mal, a pressão e culpa sobre nós diminuiria.

  Como assim? Bem, se o melhor aluno não gostou da prova porque achou difícil, quanto mais a gente, que somos alunos regulares? Se somente eu tivesse achado a prova difícil, a pressão e sensação de incapacidade mental seria bem maior. Não, não sou egoísta. Não sou invejoso. Eu acho que não, né?