As estrelas

Noite Estrelada sobre o Ródano, Vicente Van Gogh. Foto: http://arteemtodaaparte.files.wordpress.com/2011/06/noite-estrelada-sobre-o-rc3b3dano1.jpg

  Olhei para o céu e senti um pouco de inveja. Talvez fosse ciúme, não sei. Não haviam nuvens, muito menos estrelas. Só a lua que insistia em aparecer. Ela era teimosa. Mas, meus olhares não estavam a procura dela e, apesar de sua insistência e regularidade, não é ela quem eu queria ver. As vezes, ela ficava envergonhada, mas sempre se renovava. Sempre vinha nova para tentar dominar meu olhar.

  Não te quero, Lua. Quero as estrelas. Não te quero avião. Quero as estrelas. Não te quero poste. Quero as estrelas. Não te quero, TV. Quero as estrelas. Não quero ninguém além delas. Quero contemplá-las. Quero desenhá-las. Quero fotografá-las. Quero relembrar delas em meus sonhos. Quero ligá-las e criar constelações. Quero esquecê-las.

  Que mal era este que eu tinha? Querer o que não tenho e esquecer o que possuo? Mas, que podia eu fazer se em minha mente, as luzes tênues daquelas distantes constelações ofuscavam o poderoso luar de uma lua cheia? Que escolha eu tinha? Talvez eu tivesse escolha. Talvez estive errado em contemplar aquela estrela brilhante, tão distante, tão inalcançável. 

  Sendo inalcançável, minha alegria nunca seria alcançada? Será que nunca estaria satisfeito? Viveria essa eterna insatisfação? Uma eterna tristeza? Não, não seria assim. Não viveria assim. Resolvi me mudar. Resolvi morar onde as luzes não eram falsas, onde as cores eram reais. Fui morar distante da cidade. Fui vasculhar o universo. 

  Procurava algo tão distante, algo perdido no espaço. Sabia que nunca encontraria. Era uma mera utopia. Mas, pensando bem, não procurava eu algo no universo? Entretanto, não estava eu inserido nele? Não era eu mais um pontinho naquela imensidão? Por que insistia em me completar apenas com o inalcançável se aquilo que eu procurava estava tao perto? Talvez eu estivesse cego. Quem sabe... todos nós...

Alexandre Valério Ferreira